terça-feira, 29 de abril de 2025
Cel. Miguel Moreira
terça-feira, 22 de abril de 2025
Ottoni Silva, um dos principais nomes da imprensa de Itabuna
quarta-feira, 16 de abril de 2025
Júlia Alves de Souza Menezes, a Baronesa de Cristinápolis
Nascida em 24 de junho de 1870 no lendário Engenho da Trindade, no município de Itabaianinha, Sergipe, Júlia Alves de Souza Menezes veio ao mundo cercada pelos ares do Império e pelo esplendor da aristocracia rural. Filha do Capitão Bernardino José Alves de Souza, mais tarde agraciado com o título de Barão de Itabaianinha, e de D. Maria Merendolina da Vitória Souza, passou a infância na imponente casa-grande do engenho, em meio aos tempos áureos da cana-de-açúcar e à dura realidade da escravidão. Começou seus estudos aos seis anos sob a orientação da professora Adélia Esteves de Lima, com quem completou o curso primário, e aos 16 anos transferiu-se para Aracaju, onde concluiu a educação secundária.
Em 1894, uniu-se em matrimônio ao Coronel João de Oliveira Menezes, que receberia o título de Barão de Cristinápolis. Com esse enlace, Júlia tornou-se a Baronesa de Cristinápolis, título que usaria com dignidade e empenho social. O casal tornou-se proprietário de vastas extensões de terra no estado de Sergipe, consolidando-se entre as famílias mais influentes da região. A origem nobre e a sólida formação educacional forneceram a base para que Júlia assumisse, ao longo da vida, papéis de liderança na sociedade, especialmente no campo das ações filantrópicas e religiosas.
No dia 2 de junho de 1920, estabeleceu-se em Itabuna, onde deixaria marcas profundas de sua generosidade e espírito empreendedor. Foi fundadora da Irmandade da Terra Santa, criada em 2 de março de 1921, na Santa Casa de Misericórdia, ao lado de coronéis e membros da elite local. Tornou-se Irmã Benemérita da instituição, além de ajudar a fundar a Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, a Associação das Senhoras de Caridade e a Assistência Social. Com sensibilidade voltada aos mais necessitados, ergueu casas populares na rua da Rancharia, dando dignidade a famílias de baixa renda.
Incansável em seu compromisso com o bem coletivo, Júlia também esteve à frente da fundação da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, do Clube Recreativo Turunas de Itabuna e da Filarmônica Amantes da Lira. Participou ainda da criação do Colégio Divina Providência, contribuindo para a educação local. Sua trajetória foi marcada por devoção religiosa, espírito cívico e generosidade com os mais humildes. Faleceu em 21 de abril de 1949, aos 78 anos, deixando como herança um legado de fé, caridade e compromisso com o progresso social.
terça-feira, 15 de abril de 2025
Cel. Francisco Fontes da Silva Lima e D. Laurinda Fontes Torres Lima
domingo, 13 de abril de 2025
O eco inflexível de Manoel Leal de Oliveira
Na cidade de Itajuípe, Bahia, em 29 de maio de 1930, nascia Manoel Leal de Oliveira, um homem cuja vida seria marcada por um compromisso incansável com a verdade. Filho de uma terra onde o cacau moldava sonhos e conflitos, Manoel começou a trabalhar aos 12 anos em uma fábrica de sorvetes em Itabuna, carregando desde cedo a determinação que definiria seu destino. Com estudos até o segundo grau, ele encontrou no jornalismo sua vocação, uma chama que o levou a trabalhar em publicações como Última Hora e Jornal do Commercio no Rio de Janeiro, onde já demonstrava sua coragem ao defender um colega, sendo acusado de comunista e deixando o emprego por princípios.
De volta à Bahia, Manoel fundou, em 1952, o jornal A Terra em Itabuna, um veículo combativo que desafiava os poderosos e dava voz aos marginalizados. Sua escrita polêmica, afiada como uma lâmina, incomodava elites e autoridades, mas conquistava leitores pela honestidade. Em 1960, criou a Tribuna Regional e, em 1987, ao lado do escritor Hélio Pólvora, lançou o Cacau Letras, um jornal literário, e o A Região, que se tornaria seu principal legado. Esses projetos refletiam sua visão de jornalismo como ferramenta de transformação, um espelho da realidade que não se curvava a pressões. Por sinal, a coluna mais lida do A Região era a "Malha Fina", escrita pelo próprio Manoel, onde era realizada a grande maioria das denúncias bombásticas, em tópicos curtos e impactantes.
Além do jornalismo, Manoel era um homem de múltiplas facetas. Plantador de cacau desde os anos 1950, atuou como consultor do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau e dirigiu a Companhia Viação Sulbaiana a partir de 1978. Proprietário da gráfica Colorpress, ele dominava o ciclo da palavra impressa, da criação à distribuição. Sua vida profissional, contudo, não o afastava da simplicidade: aos domingos, frequentava a casa de praia do amigo Agostinho “Guga” Nunes, onde se entregava a momentos de lazer, ou passeava com seu cão fox, Átila, por quem nutria um carinho especial. Como passatempo, encantava com truques de magia, revelando um lado lúdico que contrastava com sua firmeza jornalística.
Casado com Wanda Vicentini de Oliveira, Manoel era pai de Marcel Leal, 37 anos, Valéria Leal, 34, e Adriana Leal, 33, na época de sua morte. Sua família era o alicerce de uma existência dedicada ao trabalho e à justiça. Reconhecido por sua atuação em prol dos necessitados, ele recebeu o Prêmio CDL de Imprensa como Melhor Jornal e homenagens por sua solidariedade. Sua vida, porém, era marcada por tensões: o jornalismo investigativo que praticava o colocava na mira de adversários, e ele sabia que a verdade tinha um preço alto.
Em 14 de janeiro de 1998, por volta das 20 horas, Manoel Leal de Oliveira foi assassinado com seis tiros ao chegar em sua casa no bairro Jardim Primavera, em Itabuna. Naquele dia, sinais de ameaça já pairavam: às 16 horas, ele recebeu um telefonema alertando que talvez não estivesse vivo no dia seguinte; às 18 horas, um funcionário de sua gráfica foi avisado de um plano para agredi-lo. Uma caminhonete Silverado com suspeitos foi vista perto de sua residência horas antes do crime. A Polícia Federal apontou três suspeitos – Marcone Sarmento, mas a investigação local considerou as provas insuficientes, e o caso foi arquivado.
O assassinato de Manoel gerou comoção nacional e internacional. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) cobraram justiça, mas a impunidade prevaleceu. Em 2000, o deputado Aloizio Mercadante denunciou a falta de punição e pediu proteção para Geraldo Simões, ex-prefeito de Itabuna, que temia represálias. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) levou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que recomendou indenização à família, paga em 2010, e a reabertura das investigações. Apesar disso, os mandantes intelectuais do crime seguem sem identificação, e o caso permanece como um símbolo da violência contra a imprensa no Brasil.
Manoel Leal de Oliveira viveu como um farol em meio à escuridão da corrupção e da opressão. Seu jornalismo destemido, que investigava desde irregularidades políticas até abusos de poder, custou-lhe a vida. Mesmo após sua morte, seu legado perdura: Marcel Leal, seu filho, assumiu o comando do A Região e da rádio Morena FM, mantendo viva a chama do jornalismo local. A luta contra a impunidade, porém, continua, com julgamento de um suspeito, absolvido em 2005 mas julgado novamente em 2019, refletindo a lentidão da justiça.
A trajetória de Manoel é um testemunho da coragem de enfrentar o poder com a palavra. Seu assassinato, ainda envolto em sombras, é um lembrete do preço pago por aqueles que ousam iluminar a verdade. Em Itabuna, onde o cacau já não reina como antes, o eco de suas reportagens permanece, inspirando novas gerações a resistirem e a persistirem, como ele fez, até o último instante.