Filho dos cacaueirais de Ilhéus, Ottoni Silva veio ao mundo em 20 de dezembro de 1915 e cedo trocou o banco escolar — que cursou apenas até o elementar incompleto — pela lida prática de eletricista-instalador e gráfico. Foi nesse ofício que aprendeu a decifrar fios, tipos e engrenagens, alicerçando uma carreira predestinada a unir a seiva da terra ao pulso ardente da imprensa.
Na década de 1930, o jovem operário bate às portas do semanário O Intransigente, comandado pelo coronel Henrique Alves. Começa como auxiliar de tipografia, mas logo faz do chumbo o seu alfabeto de combate: ascende a redator-chefe e, com audácia, converte o jornal em diário, transformando-o em caixa de ressonância dos ventos de mudança que varriam o sul da Bahia. Três décadas de direção consolidaram seu nome como uma das vozes mais tenazes da região.
A veia empreendedora não tardou a transbordar. Em 1956, Ottoni funda a Rádio Clube de Itabuna, adquirindo-a posteriormente para doá-la à Igreja Católica num gesto de nobre desprendimento. No ano seguinte, une-se a Zildo Guimarães e José Oduque para lançar o Diário de Itabuna, que por quase quarenta anos seria o farol informativo da cidade. O veterano, então com noventa e um anos e já aposentado, ainda irradiava inspiração às gerações que não presenciaram seus feitos.
Para além das redações, Ottoni marcou a vida pública com a mesma paixão. Fundou o Ginásio Noturno Firmino Alves, ergueu — com a força solidária da comunidade — o Itabuna Social Clube e exerceu o cargo de Secretário-Executivo da Santa Casa. Foi titular de cartório de registros, irmão ativo da Maçonaria, leonino dedicado no Lions Club e dono do serviço de alto-falante SRPC, adquirido de Mário Caldas, multiplicando canais de voz para a coletividade itabunense.
Tal dedicação lhe valeu o Título de Cidadão Itabunense, outorgado pela Câmara Municipal, selando sua condição de ilheense por nascimento, itabunense por adoção e mérito. Uma rua do bairro Pontalzinho ostenta seu nome, lembrando que nenhum grande movimento cívico ou cultural da cidade deixou de carregar sua assinatura ou o eco de sua influência discreta.
Ottoni Silva encerrou sua jornada em 22 de agosto de 2011, aos noventa e cinco anos, no Hospital Calixto Midlej. Deixou, porém, mais que memória: deixou-nos o perfume do cacau entrelaçado ao cheiro de tinta fresca, exemplo de que as páginas da história se escrevem com coragem, serviço e fé inquebrantável no poder transformador da palavra impressa.
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