domingo, 10 de agosto de 2025

Fotógrafo baiano lança livro-documentário sobre o povo em situação de rua

O fotodocumentarista Heitor Rodrigues, lança na próxima quarta-feira, dia 13, no Centro de Cultura João Gilberto, às 19 horas, em Juazeiro, norte da Bahia, seu terceiro livro documentário. 

Com o título [às] Margens do Olhar, a obra traz imagens da realidade das pessoas em situação de rua dos municípios de Juazeiro (Bahia), Petrolina (Pernambuco) e São Paulo (capital). 

O prefácio do livro é de autoria do agente social, o padre Júlio Lancelotti, pároco episcopal da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo. O trabalho teve concepção e captação de imagens há mais de dois anos.

“Venho acompanhando essas pessoas desde 2022; pessoas que estão à margem da sociedade e todos com grandes histórias. Vivenciar isso, foi muito impactante. Toda parte textual do livro são as histórias dessas pessoas”, revela o fotógrafo Heitor Rodrigues.

Em um trecho do prefácio, o religioso destaca a relação da fotografia com o afeto, o amor e a dor. "Que a foto seja o afeto, que o afeto seja fotografado, que a vida seja perpetuada no momento do amor, no momento da dedicação, no momento em que eles estão documentando a dor e o amor", cita o padre Lancelotti em seu texto.

O lançamento do livro-documentário será acompanhado de uma exposição fotográfica com os personagens que integram a obra. “Junto com o lançamento do livro, haverá uma exposição fotográfica com as pessoas que ilustram a publicação com suas imagens e suas histórias”, afirma Rodrigues.

Este é o terceiro livro-documentário do fotógrafo Heitor Rodrigues. O primeiro, “Juazeiro: Luz e Sombras", foi em e-book em 2020. O segundo, “Pirilampos da Caatinga”, lançado em 2021, traz um mergulho na cultura de vaqueiros de Uauá, cidade também do norte da Bahia.

[às] Margens do Olhar é um projeto que foi contemplado nos Editais da Lei Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura da Bahia, direcionado pelo Ministério da Cultura.



sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Titio Brandão – a voz que abraçou um povo

 

Poucos nomes ecoam com tanta ternura e respeito na história de Itabuna quanto o de Antônio Brandão de Jesus, o inesquecível Titio Brandão. Nascido em 11 de maio de 1927, em Feira de Santana, chegou ainda menino a Ilhéus, onde construiu os alicerces de sua vida e trajetória. Desde cedo, revelou vocação para a comunicação e para o serviço ao próximo, unindo a potência de sua voz ao calor do coração generoso.

Aos 16 anos, deu os primeiros passos no rádio, na Rádio Cultura de Ilhéus, como office-boy e datilógrafo. O destino, porém, tinha outros planos: a ausência de um locutor por motivos de saúde abriu espaço para que sua voz ganhasse o microfone. A partir dali, o que era apenas auxílio técnico se transformou em missão: comunicar, emocionar e unir. Foi nesse mesmo período que começou um trabalho social marcante, arrecadando presentes no comércio para distribuir às crianças carentes — e, com esse gesto afetuoso, nasceu o carinhoso apelido que o eternizaria: Titio Brandão.

Ainda jovem, criou o programa infantil “Nossa Gente Pequenina”, onde crianças declamavam poesias e cantavam com alegria. Ampliou sua atuação ao organizar o “Show dos Calouros” no Clube dos Comerciários de Ilhéus, com a cantora Norma de Assis, sua cunhada e parceira de palco. Também coordenou festas populares como o “Dia das Mães”, “Dia das Crianças”, “Natal dos Pobres”, sempre levando carinho e esperança à população mais humilde.

A sua trajetória seguiu para Itabuna, a convite do jornalista Otoni Silva, para integrar a fundação da Rádio Clube de Itabuna — atual Rádio Nacional. A chegada de Titio Brandão marcou o início de uma nova era na radiodifusão da cidade. Trouxe consigo talentos como Norma de Assis, Alfa Santos e Romilton Teles, fortalecendo o elenco artístico local. Sua voz e carisma tornaram-se presença indispensável no cotidiano itabunense.

Homem de família extensa e dedicada, casou-se com Cleonice Prazeres de Assis, com quem construiu um verdadeiro clã: foram 11 filhos (02 falecidos), netos, bisnetos e tataranetos. Um núcleo familiar que ecoa, até hoje, os valores de união, alegria e generosidade que ele propagava no rádio e na vida.

Nos anos 1960, Titio Brandão se destacou também como vereador voluntário, exercendo seu mandato sem remuneração. Foi responsável por trazer a Itabuna ícones da música nacional, como Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e o palhaço Carequinha. Promoveu eventos grandiosos e populares, criando datas comemorativas como o Natal da Criança Pobre e o Dia dos Motoristas, além de fomentar a cultura por meio dos blocos carnavalescos Os Quizimbas e Unidos do Pontalzinho.

No bairro do Pontalzinho, onde morou, foi figura decisiva para o desenvolvimento urbano: lutou pela pavimentação de ruas, fundou o Clube Social do Pontalzinho e idealizou o programa “O Bairro se Diverte”, transmitido ao vivo pela rádio, reunindo artistas e calouros com sorteios e premiações para a comunidade. Sua voz, sempre acolhedora, levava entretenimento e dignidade às periferias esquecidas.

Seu legado foi reconhecido em vida com o título de Cidadão Itabunense, concedido mesmo em meio à fragilidade de sua saúde. Após sua morte, em 18 de abril de 2000, sua memória permanece viva na cidade que tanto amou. Em 2024, a principal praça do bairro Pontalzinho foi rebatizada como Praça do Trabalho Titio Brandão, graças a um projeto de lei sancionado com unanimidade e entusiasmo.

Titio Brandão não foi apenas um radialista, apresentador ou vereador. Foi um pioneiro da solidariedade, um empreendedor cultural e um símbolo de afeto popular. Sua voz não apenas transmitiu notícias ou canções, mas inspirou gerações a acreditar no poder da comunidade, da arte e do amor ao próximo. Seu nome ecoa como exemplo de um tempo em que o rádio era ponte entre corações — e Titio Brandão, o construtor dessa ponte.