domingo, 25 de maio de 2025

Hélio Pólvora

Nascido em 1928, na cidade de Itabuna, sul da Bahia, Hélio Pólvora de Almeida construiu uma trajetória marcada pela dedicação às letras. Escritor, jornalista, crítico literário e tradutor, mudou-se em 1953 para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por três décadas. Foi nesse ambiente efervescente que iniciou sua carreira literária e consolidou-se também no jornalismo, sem jamais perder o vínculo com suas raízes baianas.

Sua estreia na literatura se deu em 1958, com a publicação de Os Galos da Aurora, obra que já revelava sua habilidade na construção de narrativas densas e sensíveis. Ao longo dos anos, lançou livros de contos como Estranhos e Assustados, O Grito da Perdiz e Massacre no Km 13, além do romance Inúteis Luas Obscenas, reafirmando-se como um dos grandes contistas da literatura brasileira contemporânea.

No jornalismo, sua atuação foi igualmente expressiva. Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Shopping News, foi crítico literário e de cinema no Jornal do Brasil e colaborador da revista Veja. No jornal A Tarde, da Bahia, exerceu as funções de editorialista e colunista. Publicou mais de 25 livros entre ficção e crítica literária, e seus contos atravessaram fronteiras, sendo traduzidos para idiomas como espanhol, inglês, francês, italiano, alemão e holandês.

De volta a Itabuna a partir de 1984, Hélio se manteve ativo no cenário cultural. Foi membro da Academia de Letras de Ilhéus, da Academia de Letras da Bahia e da Academia de Letras do Brasil. Criou e editou o jornal Cacau-Letras e, em 1987, fundou ao lado do jornalista Manoel Leal o semanário A Região. Faleceu em Salvador, no dia 23 de março de 2015, aos 86 anos, deixando um legado que eterniza sua voz na literatura brasileira.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

A Vida em Versos de Gil Nunesmaia


Gil Nunesmaia, nascido sob o sol de Ilhéus em 25 de outubro de 1913, carregava no sangue a paixão pela medicina, pela poesia e pelo ideal de transformar o mundo ao seu redor. Formado em Patologia Clínica pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1938, ele construiu uma carreira marcada pela dedicação à ciência e à educação. Sua alma inquieta, porém, transcendia os limites do consultório: ao lado de José Nunes de Aquino e José Soares Pinheiro, abraçou o Integralismo, movimento que o levou a militar por causas que acreditava serem justas, com a fervorosa convicção de quem deseja deixar um legado. Sua vida, como seus haicais, era uma busca por equilíbrio entre a precisão da ciência e a liberdade do verso.

Em Itabuna, Nunesmaia deixou marcas indeléveis. Em 1966, assumiu o papel de interventor federal na prefeitura da cidade, guiado por um senso de responsabilidade cívica. Sua visão ia além da administração: lutou incansavelmente pela criação da Faculdade de Filosofia de Itabuna e pela construção do Colégio Estadual, sementes de conhecimento que plantou para as gerações futuras. Como médico analista, atuou nos hospitais Santa Cruz e Manoel Novais, enquanto, como professor, formou mentes nos colégios Divina Providência e Estadual. Sua influência se estendia ao Conselho Estadual de Educação, onde ajudou a moldar políticas educacionais com a mesma precisão que aplicava em suas análises clínicas.

A poesia, porém, era o refúgio onde Gil Nunesmaia encontrava harmonia. Em 1979, publicou Intervalo, uma coletânea de haicais que capturava a essência da vida em três versos — dois pentassílabos e um heptassílabo, como um suspiro medido. Cada poema era um instante de contemplação, um reflexo de sua capacidade de enxergar beleza na simplicidade. Sua contribuição à cultura baiana também se manifestou na fundação da Associação Bahiana de Medicina-Regional Sul e da Associação Brasileira de Patologia Clínica, instituições que fortaleceram a medicina em sua região. Nunesmaia vivia entre a métrica dos versos e a rigorosidade da ciência, unindo mundos aparentemente distantes com rara maestria.

O fim de sua jornada veio em 6 de outubro de 1993, mas seu legado permanece vivo nas instituições que ajudou a erguer, nos alunos que inspirou e nos versos que deixou. Gil Nunesmaia foi mais que um médico ou poeta; foi um homem que, com a mesma dedicação com que diagnosticava enfermidades, diagnosticava as necessidades de sua comunidade. Seus haicais, breves como a vida, ecoam a profundidade de um espírito que soube entrelaçar o efêmero e o eterno, deixando em Ilhéus e Itabuna um rastro de compromisso e poesia.

sábado, 17 de maio de 2025

Maria Pinheiro: coragem que rompeu tradições


Maria Pinheiro nasceu em 2 de outubro de 1905, trazendo consigo uma força que logo se revelaria transformadora. Formou-se cirurgiã-dentista em 1933, em uma época em que poucas mulheres ousavam sonhar com os bancos universitários. Sua chegada a Itabuna marcou o início de uma nova era: foi a primeira profissional da Odontologia a atuar na cidade, abrindo caminhos não apenas na saúde, mas também na mentalidade coletiva.

Espírita convicta, Maria guiava sua vida pela fé e pelo compromisso com o bem comum. Humanista, idealista e ousada, desafiou os costumes de sua época com naturalidade e firmeza. Foi pioneira em atitudes simbólicas, como o uso de calça comprida e a condução de veículos — gestos simples, mas de imenso impacto em uma sociedade conservadora. Sua trajetória foi marcada pelo ativismo político e social, com mais de cinco décadas de militância em prol dos menos favorecidos.

Com olhar atento às carências de sua comunidade, prestou atendimento odontológico gratuito aos necessitados e liderou campanhas solidárias. Sua luta pela construção de um albergue no bairro da Caixa D'Água resultou na transferência da estrutura para a Legião da Boa Vontade, ampliando seu alcance. Em 1973, assumiu a chefia do Setor de Assistência Social no governo de José Oduque, dando continuidade ao seu incansável trabalho de amparo social.

A cidade de Itabuna, em justa homenagem, batizou com seu nome um bairro inteiro, eternizando sua memória no espaço urbano. Maria Pinheiro faleceu em 3 de novembro de 1997, deixando como legado uma vida de serviço, coragem e transformação. Seu exemplo permanece vivo como símbolo de empatia, resistência e trabalho voluntário.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

O Rei do Cacau: A Saga de Oscar Marinho Falcão


Você já deve ter ouvido esse nome. Afinal, um dos colégios mais tradicionais de Itabuna, o CIOMF (Centro Integrado Oscar Marinho Falcão) tem esse título em sua homenagem. Na verdade, ele foi construído em terreno doado por esse ilustre cidadão.

Oscar Marinho Falcão nasceu em 28 de novembro de 1895, na pequena cidade de Itabaianinha, no interior de Sergipe. Filho de Antônio Pedro Marinho Falcão e Maria José Soares Falcão, teve origem humilde, mas logo demonstraria um espírito prático e uma disciplina férrea que marcariam sua trajetória. Ainda jovem, começou a trabalhar no armazém “O Vencedor”, de propriedade de seu sogro João Pedro de Souza Leão. 

Casou-se com Ana Soares de Souza Falcão, com quem constituiu família e deu início a uma vida dedicada ao trabalho, à poupança e ao empreendedorismo.Conhecido por sua austeridade e fama de pão-duro, Oscar construiu, com paciência e estratégia, um dos maiores patrimônios da região cacaueira. A lenda popular lhe atribuiu a posse de nada menos que 120 fazendas, conferindo-lhe o título de “Rei do Cacau”. Seu nome tornou-se sinônimo de riqueza e poder no sul da Bahia. Apesar de seu temperamento reservado, era figura lendária em Itabuna, cercado por histórias bem-humoradas e episódios pitorescos que alimentavam o imaginário popular.

Oscar Marinho Falcão era também conhecido por emprestar dinheiro a juros elevados, prática que lhe granjeava respeito e temor. Seu sobrado imponente na rua Paulino Vieira, verdadeira marca de seu sucesso, tornou-se símbolo da sua presença na cidade. 

Embora conhecido por sua dureza nos negócios, não deixou de lado a generosidade: mandou construir a capela do Abrigo São Francisco, um gesto de fé e solidariedade. Já em saúde debilitada, delegou ao senhor Cedar Fontes de Faria a conclusão da obra, demonstrando preocupação com a continuidade de seus feitos.

Um episódio sombrio marcaria seus últimos anos. Cerca de uma década antes de sua morte, Oscar foi vítima de um atentado: atropelado por ordem de membros de sua própria família, escapou com vida, mas carregou sequelas permanentes na perna. Mesmo assim, manteve-se firme até o fim. Faleceu em 29 de setembro de 1967, em Itabuna, cidade onde construiu sua fortuna e deixou um legado que ainda ecoa.

Entre seus filhos, destacou-se José Marinho Falcão, médico de formação, com especialização na Alemanha. Herdando o espírito empreendedor do pai, o Dr. José foi um dos principais idealizadores do Hospital São Lucas, cuja planta funcional ele mesmo concebeu. Fundou uma indústria de fertilizantes em Itabuna, apostando na produção de adubos orgânicos a partir da película da amêndoa do cacau, rejeitada pela indústria convencional. Enfrentou dificuldades com o declínio da lavoura provocado pela praga da "Vassoura de Bruxa", o que levou ao encerramento da atividade.

Apesar dos reveses, José Marinho ainda tentou novas frentes, como a introdução da pupunha e a produção industrial de palmito, sem sucesso. Homem culto e de trato gentil, envelheceu de forma discreta, como que envolto na sombra de um tempo que passou, mas cuja marca permanece. O nome dos Marinho Falcão, sobretudo o de Oscar, continua a ressoar entre as lendas e memórias de uma era em que o cacau reinava absoluto no sul da Bahia.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Dantinhas, o cronista da memória Itabunense


José Dantas de Andrade, carinhosamente conhecido como "Dantinhas", nasceu em Simões Dias, no estado de Sergipe, em 30 de agosto de 1910. Bancário de profissão, historiador por vocação, desportista por paixão, além de poeta e trovador, tornou-se uma das figuras mais queridas e respeitadas da história de Itabuna. Seu talento natural para contar "causos" e histórias bem-humoradas marcou o imaginário coletivo da cidade.

Assinando muitas de suas obras com o pseudônimo "Zé das Antas", Dantinhas conquistou espaço na imprensa sul-baiana com suas crônicas recheadas de humor, contos pitorescos e sátiras rimadas que retratavam com ironia e inteligência fatos e personagens do cotidiano itabunense. Sua verve popular rendeu-lhe livros de piadas, crônicas regionais e textos que mergulham com graça no espírito da roça e da cidade.

A paixão pela história foi uma constante em sua trajetória. Dedicou-se durante décadas à coleta de documentos, fotos e relatos orais, formando um acervo precioso sobre Itabuna e sua gente. Seu primeiro livro, Espírito da Roça, lançado em 1937, foi seguido por outras obras de caráter humorístico e regional, como Arranca Toco e Estica Toco, culminando na coletânea Troças da Rua e da Roça, publicada em 1968. Seu vasto arquivo fotográfico foi generosamente legado à Maçonaria, como forma de preservar a memória local.

Sua contribuição como historiador ganhou destaque com o lançamento, em parceria com os fotógrafos Vieira e Newton Maxwell, do livro Itabuna Cinquentenária – Documentário Fotográfico Histórico de Itabuna (1910-1960), o primeiro registro sistematizado sobre a história do município. A obra tornou-se uma referência fundamental para estudiosos e apaixonados pela trajetória da cidade.

No campo esportivo, Dantinhas foi um incansável incentivador do futebol amador itabunense. Exerceu a presidência da LIDA – Liga Itabunense de Desportos Amadores, deixando sua marca no fortalecimento do esporte local. Profissionalmente, dedicou mais de quatro décadas como gerente do extinto Banco Rural, tornando-se uma figura de grande respeito no setor bancário regional.

Homem de família e de valores, Dantinhas foi pai de Maruse Dantas, presidente da AABB de Itabuna, e avô de Ricardo Xavier, vereador, e de Rodrigo Xavier, presidente do Itabuna Esporte Clube. 

Faleceu em 2004, aos 94 anos, deixando um legado de histórias, memória e amor incondicional por Itabuna.




quinta-feira, 1 de maio de 2025

Amélia Amado, a luz fraterna de Itabuna



Nascida em 15 de julho de 1903, em Ilhéus, no seio da tradicional família Berbert, Amélia Tavares Amado foi filha de Manoel Misael da Silva Tavares, o Coronel Misael, e de Eufrosina Berbert Tavares, a conhecida Dona Santinha. Criada numa atmosfera de valores religiosos e humanitários, desde cedo demonstrou inquietude espiritual e vocação para o bem coletivo. Devota fervorosa de Santo Antônio e de São Francisco de Assis, guiava-se por sonhos que mais pareciam visões, como aquele que a inspirou a criar uma instituição voltada para a assistência aos mais necessitados. Assim nasceu a Ação Fraternal de Itabuna (AFI), um dos maiores projetos educacionais e sociais da história da cidade.

Aos 17 anos, Amélia casou-se com Gileno Amado, advogado de seu pai e figura influente na política local. Ao lado do marido, mudou-se para Itabuna, onde o acompanhou por décadas em sua vida pública. Mãe dedicada de duas filhas — Maria Célia e Neda Silva — Amélia desempenhou com afinco os papéis de esposa e educadora do lar. Mas foi após o casamento das filhas e o afastamento político de Gileno que Amélia encontrou espaço e impulso para realizar plenamente sua vocação social. Herdando recursos após o falecimento do pai, decidiu empregá-los em benefício dos menos favorecidos, revelando-se uma empreendedora do bem-estar coletivo.

Em 13 de julho de 1947, no coração de Itabuna, na própria casa em frente à Praça Olinto Leoni, fundou o Colégio Ação Fraternal, voltado exclusivamente para a formação de moças pobres. Inicialmente, o projeto oferecia cursos profissionalizantes como datilografia e corte e costura, além do curso LEC — Ler, Escrever e Contar. A demanda cresceu rapidamente, e a residência da fundadora passou a ser inteiramente ocupada pela instituição. Dali, Amélia mudou-se para a Estância Santo Antônio, na BR-415, uma propriedade adquirida por seu esposo, e deu sequência à sua missão educativa com a mesma devoção de sempre.

Em 1952, um novo marco se ergueu: o terreno que hoje abriga o Colégio Ação Fraternal foi adquirido, consolidando o sonho de Amélia em uma sólida obra de tijolos e esperança. Seu trabalho social foi reconhecido em vida com importantes honrarias. Em 1956, o Papa Pio XII concedeu-lhe o título de Comendadora do Vaticano, cuja comenda foi entregue solenemente no ano seguinte, em seu aniversário, pelo bispo Dom Rezende Costa. Também recebeu o título de Cidadã Itabunense, numa justa homenagem da Câmara Municipal à mulher que transformou a paisagem social e educacional da cidade.

Não se limitando à educação básica, Amélia idealizou e fundou a Faculdade de Filosofia de Itabuna em 1960, abrindo novos horizontes para o pensamento crítico e a formação de professores. Em Jussari, implantou o ensino primário e o ginásio, além de liderar a instalação da Matriz de Nossa Senhora das Candeias. Sua sensibilidade artística também encontrou espaço no Teatro Estudantil Itabunense (TEI), criado por ela e que, nas décadas de 1960 e 1970, foi um polo de expressão juvenil e formação cultural. Amélia acreditava no poder transformador da arte e da educação — e deu provas concretas disso.

Junto de Gileno Amado, protagonizou experiências pioneiras em reforma agrária na região cacaueira. Aposentavam seus trabalhadores de forma digna, adquirindo pequenas roças para que pudessem viver de forma independente. Além disso, seus agregados recebiam assistência médica, cestas básicas, tecidos, seguros, bolsas de estudo e acesso à escola. Em um tempo em que não havia amparo legal aos trabalhadores, Amélia e Gileno já praticavam a justiça social como um dever moral.

Viúva, Amélia viveu seus últimos anos em serenidade e plenitude, falecendo em 27 de agosto de 1983, aos 80 anos, em Itabuna. Uma das principais avenidas da cidade leva o seu nome. Sua presença, no entanto, permanece indelével na memória coletiva da cidade. Sócia benemérita de diversas instituições, é lembrada como uma figura carismática, de firmeza católica e postura progressista. Sua obra vai além das estruturas que construiu — reside no espírito de solidariedade que deixou como herança.

Amélia Amado foi mais que esposa de um líder político: foi ela própria uma liderança no sentido mais nobre da palavra. Mulher de fé, inteligência e ação, revolucionou seu tempo com ternura e coragem. A história de Itabuna não pode ser contada sem mencionar sua contribuição definitiva. Em cada sala de aula, em cada projeto social, em cada jovem que teve a chance de sonhar mais alto, há um pouco da alma generosa de Amélia Amado — essa mulher que nos ensinou, com amor e trabalho, que o futuro se constrói com fraternidade.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Cel. Miguel Moreira



Miguel Fernandes Moreira nasceu em 1885, na cidade de Santo Amaro, Bahia, fruto da união de Pedro Fernandes Moreira e Maria Madalena da Cunha Moreira. Desde a infância, demonstrou curiosidade e inteligência, tendo aprendido as primeiras letras aos seis anos, sob a orientação do professor Augusto Freire de Carvalho. Em 1898, ainda jovem, iniciou sua trajetória profissional trabalhando em um engenho de cana-de-açúcar pertencente ao Visconde de Oliveira, experiência que moldaria sua visão prática e empreendedora. Mais tarde, uniu-se em matrimônio a D. Elvira dos Reis Moreira, carinhosamente chamada de Senhorazinha, filha do Coronel Henrique Alves dos Reis.

Foi no ano de 1908 que Miguel Moreira chegou ao então Arraial das Tabocas, onde fincou raízes e construiu uma trajetória que se entrelaça à própria história do município de Itabuna. Tornou-se um dos maiores proprietários de terra da região e dedicou-se com fervor ao progresso local. Foi protagonista na fundação de instituições que marcaram o desenvolvimento da cidade, como a Santa Casa de Misericórdia, a Associação Comercial, a Loja Maçônica, o Banco Rural, o Banco do Brasil, filarmônicas, irmandades religiosas e o tradicional Itabuna Clube.

Como homem público, Miguel Moreira exerceu papel de destaque. Atuou como um dos primeiros conselheiros municipais e, posteriormente, assumiu a prefeitura da cidade. Durante sua administração, promoveu importantes obras de infraestrutura: implantou a usina de luz elétrica, deu início à pavimentação de ruas nos bairros de Fátima, Mangabinha, Pontalzinho, Califórnia e Conceição, e construiu o matadouro municipal. Sua liderança firme e visionária culminou na recepção, em sua própria casa, do presidente da República, João Café Filho, e do General Juarez Távora, no último ano de seu mandato.

Miguel Moreira faleceu em 1966. Era conhecido por sua personalidade jovial, sua simplicidade e pela agradável convivência com todos. Sua figura permanece viva na memória de Itabuna como símbolo de pioneirismo e de amor à terra que ajudou a construir com mãos firmes e espírito generoso.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Ottoni Silva, um dos principais nomes da imprensa de Itabuna


Filho dos cacaueirais de Ilhéus, Ottoni Silva veio ao mundo em 20 de dezembro de 1915 e cedo trocou o banco escolar — que cursou apenas até o elementar incompleto — pela lida prática de eletricista-instalador e gráfico. Foi nesse ofício que aprendeu a decifrar fios, tipos e engrenagens, alicerçando uma carreira predestinada a unir a seiva da terra ao pulso ardente da imprensa.

Na década de 1930, o jovem operário bate às portas do semanário O Intransigente, comandado pelo coronel Henrique Alves. Começa como auxiliar de tipografia, mas logo faz do chumbo o seu alfabeto de combate: ascende a redator-chefe e, com audácia, converte o jornal em diário, transformando-o em caixa de ressonância dos ventos de mudança que varriam o sul da Bahia. Três décadas de direção consolidaram seu nome como uma das vozes mais tenazes da região.

A veia empreendedora não tardou a transbordar. Em 1956, Ottoni funda a Rádio Clube de Itabuna, adquirindo-a posteriormente para doá-la à Igreja Católica num gesto de nobre desprendimento. No ano seguinte, une-se a Zildo Guimarães e José Oduque para lançar o Diário de Itabuna, que por quase quarenta anos seria o farol informativo da cidade. O veterano, então com noventa e um anos e já aposentado, ainda irradiava inspiração às gerações que não presenciaram seus feitos.

Para além das redações, Ottoni marcou a vida pública com a mesma paixão. Fundou o Ginásio Noturno Firmino Alves, ergueu — com a força solidária da comunidade — o Itabuna Social Clube e exerceu o cargo de Secretário-Executivo da Santa Casa. Foi titular de cartório de registros, irmão ativo da Maçonaria, leonino dedicado no Lions Club e dono do serviço de alto-falante SRPC, adquirido de Mário Caldas, multiplicando canais de voz para a coletividade itabunense.

Tal dedicação lhe valeu o Título de Cidadão Itabunense, outorgado pela Câmara Municipal, selando sua condição de ilheense por nascimento, itabunense por adoção e mérito. Uma rua do bairro Pontalzinho ostenta seu nome, lembrando que nenhum grande movimento cívico ou cultural da cidade deixou de carregar sua assinatura ou o eco de sua influência discreta.

Ottoni Silva encerrou sua jornada em 22 de agosto de 2011, aos noventa e cinco anos, no Hospital Calixto Midlej. Deixou, porém, mais que memória: deixou-nos o perfume do cacau entrelaçado ao cheiro de tinta fresca, exemplo de que as páginas da história se escrevem com coragem, serviço e fé inquebrantável no poder transformador da palavra impressa.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Cel. Francisco Fontes da Silva Lima e D. Laurinda Fontes Torres Lima


Francisco Fontes da Silva Lima nasceu em 4 de junho de 1876, na cidade de Estância, no estado de Sergipe. Filho de uma época de escassas oportunidades educacionais, concluiu apenas o curso primário, interrompido pelas dificuldades inerentes ao ensino naquele período. Aos treze anos, ingressou na vida comercial, ajudando sua mãe, que, ao ficar viúva precocemente, montou uma loja de tecidos em Cachoeira de Abadia. Em 1903, acompanhado de seu primo e cunhado, José Fontes Torres, mudou-se para a então vila de Tabocas, onde deu continuidade aos negócios têxteis sob a razão social Fontes Torres.

A trajetória de Francisco se entrelaça com o crescimento de Itabuna. Homem de espírito cívico, integrou-se à vida da comunidade e tornou-se seguidor fiel do Coronel José Firmino Alves, compartilhando com ele os ideais de progresso para a região. Junto a outros cidadãos devotados, fundou a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, instituição essencial à assistência social da cidade, da qual foi Provedor. Sua atuação na política municipal foi marcante: exerceu o cargo de conselheiro em diversas legislaturas e, em 1930, ocupava a presidência da Câmara de Vereadores quando o golpe de Getúlio Vargas alterou os rumos do país, levando-o a afastar-se da política para dedicar-se exclusivamente ao comércio e à lavoura.

Homem de personalidade discreta e avesso aos holofotes, Francisco preferia a ação silenciosa aos discursos grandiosos. Viveu de forma reservada, sem buscar reconhecimento público, mas com firmeza e dedicação inabaláveis às causas que abraçava. Sua atuação, embora muitas vezes velada, foi decisiva no fortalecimento das estruturas sociais e econômicas do sul da Bahia, contribuindo para o desenvolvimento de uma região que, então, ainda dava seus primeiros passos rumo à modernidade.

Casou-se com sua prima Laurinda Fontes Torres Lima, com quem construiu uma família marcada por laços fortes e vivências profundas. Faleceu em 15 de janeiro de 1967, aos 90 anos, deixando como legado não apenas os frutos de seu trabalho, mas também os filhos: Maria Luíza, Luiz, José, Maria de Lourdes, Margarida, Antônio e Anízia — esta última, a única sobrevivente à época da redação desse registro. A memória de Francisco Fontes da Silva Lima permanece viva na história de Itabuna, como símbolo de compromisso, trabalho e dedicação ao bem comum.

Laurinda Fontes
Laurinda Fontes Torres Lima nasceu em 19 de outubro de 1886, na localidade de Cachoeira de Abadia, na Bahia. Desde cedo demonstrou espírito altruísta e profundo senso de comunidade, qualidades que se tornariam marcas de sua trajetória. Aos 18 anos, em 1904, casou-se com seu primo Francisco Fontes da Silva Lima e, acompanhada dele e do irmão José Fontes Torres, chegou ao Arraial de Tabocas, onde fincou raízes e passou a desempenhar um papel ativo na vida social e religiosa da nascente comunidade que viria a se tornar Itabuna.

Com uma impressionante vocação para o serviço ao próximo, Laurinda participou da fundação de importantes instituições que marcaram a história da cidade. Foi uma das idealizadoras da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, da Sociedade Montepio dos Artistas e da Filarmônica Amantes da Lira. Seu envolvimento estendia-se também à educação e à caridade: contribuiu para a criação do Colégio Divina Providência e da Associação das Senhoras de Caridade, onde exerceu o cargo de primeira presidente. Não mediu esforços para integrar e fortalecer os laços de fé e solidariedade entre os moradores, sendo também fundadora da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus e da Irmandade da Terra Santa.

Mais do que presença em solenidades ou em cargos honoríficos, Laurinda dedicou-se com fervor às causas sociais. Com recursos próprios, construiu moradias para famílias carentes, organizava e participava ativamente de festas cívicas e religiosas, tornando-se figura central na vida comunitária. Sua passagem por Itabuna foi breve em anos, mas profunda em legado. Faleceu em 1941, aos 54 anos, em Salvador, deixando um exemplo de generosidade e compromisso social que permanece vivo na memória da cidade que ajudou a construir.

domingo, 13 de abril de 2025

O eco inflexível de Manoel Leal de Oliveira

 


Na cidade de Itajuípe, Bahia, em 29 de maio de 1930, nascia Manoel Leal de Oliveira, um homem cuja vida seria marcada por um compromisso incansável com a verdade. Filho de uma terra onde o cacau moldava sonhos e conflitos, Manoel começou a trabalhar aos 12 anos em uma fábrica de sorvetes em Itabuna, carregando desde cedo a determinação que definiria seu destino. Com estudos até o segundo grau, ele encontrou no jornalismo sua vocação, uma chama que o levou a trabalhar em publicações como Última Hora e Jornal do Commercio no Rio de Janeiro, onde já demonstrava sua coragem ao defender um colega, sendo acusado de comunista e deixando o emprego por princípios.

De volta à Bahia, Manoel fundou, em 1952, o jornal A Terra em Itabuna, um veículo combativo que desafiava os poderosos e dava voz aos marginalizados. Sua escrita polêmica, afiada como uma lâmina, incomodava elites e autoridades, mas conquistava leitores pela honestidade. Em 1960, criou a Tribuna Regional e, em 1987, ao lado do escritor Hélio Pólvora, lançou o Cacau Letras, um jornal literário, e o A Região, que se tornaria seu principal legado. Esses projetos refletiam sua visão de jornalismo como ferramenta de transformação, um espelho da realidade que não se curvava a pressões. Por sinal, a coluna mais lida do A Região era a "Malha Fina", escrita pelo próprio Manoel, onde era realizada a grande maioria das denúncias bombásticas, em tópicos curtos e impactantes.

Além do jornalismo, Manoel era um homem de múltiplas facetas. Plantador de cacau desde os anos 1950, atuou como consultor do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau e dirigiu a Companhia Viação Sulbaiana a partir de 1978. Proprietário da gráfica Colorpress, ele dominava o ciclo da palavra impressa, da criação à distribuição. Sua vida profissional, contudo, não o afastava da simplicidade: aos domingos, frequentava a casa de praia do amigo Agostinho “Guga” Nunes, onde se entregava a momentos de lazer, ou passeava com seu cão fox, Átila, por quem nutria um carinho especial. Como passatempo, encantava com truques de magia, revelando um lado lúdico que contrastava com sua firmeza jornalística.

Casado com Wanda Vicentini de Oliveira, Manoel era pai de Marcel Leal, 37 anos, Valéria Leal, 34, e Adriana Leal, 33, na época de sua morte. Sua família era o alicerce de uma existência dedicada ao trabalho e à justiça. Reconhecido por sua atuação em prol dos necessitados, ele recebeu o Prêmio CDL de Imprensa como Melhor Jornal e homenagens por sua solidariedade. Sua vida, porém, era marcada por tensões: o jornalismo investigativo que praticava o colocava na mira de adversários, e ele sabia que a verdade tinha um preço alto.

Em 14 de janeiro de 1998, por volta das 20 horas, Manoel Leal de Oliveira foi assassinado com seis tiros ao chegar em sua casa no bairro Jardim Primavera, em Itabuna. Naquele dia, sinais de ameaça já pairavam: às 16 horas, ele recebeu um telefonema alertando que talvez não estivesse vivo no dia seguinte; às 18 horas, um funcionário de sua gráfica foi avisado de um plano para agredi-lo. Uma caminhonete Silverado com suspeitos foi vista perto de sua residência horas antes do crime. A Polícia Federal apontou três suspeitos – Marcone Sarmento, mas a investigação local considerou as provas insuficientes, e o caso foi arquivado.

O assassinato de Manoel gerou comoção nacional e internacional. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) cobraram justiça, mas a impunidade prevaleceu. Em 2000, o deputado Aloizio Mercadante denunciou a falta de punição e pediu proteção para Geraldo Simões, ex-prefeito de Itabuna, que temia represálias. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) levou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que recomendou indenização à família, paga em 2010, e a reabertura das investigações. Apesar disso, os mandantes intelectuais do crime seguem sem identificação, e o caso permanece como um símbolo da violência contra a imprensa no Brasil.

Manoel Leal de Oliveira viveu como um farol em meio à escuridão da corrupção e da opressão. Seu jornalismo destemido, que investigava desde irregularidades políticas até abusos de poder, custou-lhe a vida. Mesmo após sua morte, seu legado perdura: Marcel Leal, seu filho, assumiu o comando do A Região e da rádio Morena FM, mantendo viva a chama do jornalismo local. A luta contra a impunidade, porém, continua, com julgamento de um suspeito, absolvido em 2005 mas julgado novamente em 2019, refletindo a lentidão da justiça.

A trajetória de Manoel é um testemunho da coragem de enfrentar o poder com a palavra. Seu assassinato, ainda envolto em sombras, é um lembrete do preço pago por aqueles que ousam iluminar a verdade. Em Itabuna, onde o cacau já não reina como antes, o eco de suas reportagens permanece, inspirando novas gerações a resistirem e a persistirem, como ele fez, até o último instante.

terça-feira, 8 de abril de 2025

José Oduque Teixeira


Nascido em 18 de outubro de 1923, na cidade de Ribeirópolis, em Sergipe, José Oduque Teixeira construiu uma trajetória de vida marcada pela versatilidade e pelo comprometimento com o desenvolvimento social e econômico. Bacharel em Direito, também atuou como contabilista, empresário e agricultor, deixando sua marca em diferentes áreas de atuação. Transferiu-se para Itabuna, onde se tornou uma das figuras públicas mais respeitadas da cidade, exercendo com distinção os cargos de presidente do Rotary Clube, da Associação Comercial, prefeito em 1973 e, posteriormente, secretário de Administração em 1977.

Durante sua gestão como prefeito, imprimiu um estilo administrativo pautado pela austeridade, seriedade e profundo respeito pela coisa pública. Enfrentou desafios financeiros com firmeza e eficácia, saneando as contas municipais, valorizando os servidores públicos e promovendo um expressivo aumento da arrecadação. Seu cuidado com os gastos pessoais e de recursos públicos o rendeu uma sólida fama de "pão duro", inspirando inúmeras piadas e anedotas com esse tema.

Entre suas realizações, destacam-se a ampliação do sistema de telefonia e o início do asfaltamento das principais vias urbanas, modernizando a infraestrutura da cidade e melhorando a qualidade de vida da população.

Visionário, foi responsável por implantar o CITA (Centro Industrial de Itabuna), criando um novo eixo de desenvolvimento ao atrair empresas como a Nestlé, a Coograp e diversas indústrias de pequeno porte. Em 28 de julho de 1977, inaugurou o Centro Administrativo da cidade — posteriormente sede das faculdades FTC e UNEX de Itabuna —, obra construída com recursos próprios do município, símbolo de sua competência e comprometimento com o progresso regional. Também se destacou no campo da comunicação, como fundador da Rádio Jornal e do jornal Diário de Itabuna, veículos que contribuíram para fortalecer o debate público e a cidadania.

Em 18 de outubro de 2023, cercado por familiares e amigos, celebrou o centenário de vida em uma emocionante comemoração realizada na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Pouco mais de um mês depois, em 29 de novembro de 2023, faleceu em sua residência, em Itabuna, deixando um legado de trabalho, ética e dedicação exemplar ao serviço público e à comunidade.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Firmino Rocha


José Firmino Alves Rocha, mais conhecido como Firmino Rocha, nasceu em 7 de junho de 1919, em Itabuna, terra que carrega o legado de seu avô, o fundador Firmino Alves. Dotado de uma sensibilidade rara, emergiu como um dos poetas mais brilhantes da região, deixando sua marca tanto nas letras quanto na vida comunitária. Ainda jovem, envolveu-se na política estudantil e abraçou o Integralismo com fervor, enquanto em Salvador, onde se formou em Ciências e Letras, forjou sua voz poética. Suas obras, como "Fiz o Verso" (1961), "Poemas Com Muito Amor" (1961), "O Canto do Dia Novo" (1868) e "Momentos" (1969), revelam um coração que pulsava em versos, integrando-o à prestigiosa oficina lírica.

Entre suas criações, o poema "Deram Um Fuzil ao Menino" destaca-se como um hino à paz, gravado em bronze na sede da ONU e imortalizado em uma antologia internacional. Essa obra, nascida de sua pena sensível, transcendeu fronteiras, ecoando os anseios de um mundo mais humano. Além de sua contribuição literária, Firmino Rocha dedicou-se à Imprensa sul-baiana, onde suas palavras ajudaram a narrar e moldar a identidade da região, consolidando seu nome como um farol cultural em meio às paisagens cacaueiras.

Sua jornada terrena findou-se prematuramente em 1º de julho de 1971, aos 52 anos, na vizinha Ilhéus, deixando um vazio que suas estrofes ainda tentam preencher. O legado de Firmino Rocha permanece vivo nas páginas de seus livros e nas memórias de Itabuna, onde sua poesia continua a inspirar. Neto de um pioneiro, ele foi mais que um poeta: foi um cronista da alma, cuja voz, gravada em bronze e papel, ressoa como um convite à reflexão e à beleza.

sábado, 29 de março de 2025

D. Otaciana Pinto


Otaciana Pinto veio à luz em 14 de julho de 1883, no humilde arraial do Galeão de Cairu, próximo a Valença, na Bahia. Desde os cinco anos, suas primeiras letras foram traçadas sob o olhar atento da tia, a dedicada professora Ana Ferreira de Santana, que lhe abriu as portas do conhecimento. 

Filha de Claudino Ferreira Pinto e Lúcia Maria Cardoso Pinto de Madureira, Otaciana seguiu seus estudos com afinco, concluindo o curso ginasial e, aos 18 anos, atendendo ao desejo paterno, partiu para Salvador. Lá, na Escola Normal da Bahia, formou-se professora, iniciando uma jornada educacional que a levaria a lecionar em Valença, Gamboa, Xique Xique, Tucano, Prado, Porto Seguro e, finalmente, em Itabuna, onde aportou em 1924. 

Além da docência, abraçou o curso de parteira, expandindo sua missão de cuidado. Com o apoio da irmã Saphira Pinto Madureira e da sobrinha Maria Conceição, realizou 10.990 partos, um feito que reflete sua dedicação incansável. Para famílias que podiam pagar, aceitava qualquer contribuição — uma galinha, ovos, o que fosse oferecido —, mas para os pobres, nada cobrava, ainda levando enxoval e alimentos para mães e filhos. Sua fé profunda e espírito religioso guiavam cada gesto, tornando-a uma figura reverenciada.

Acompanhada da irmã Brasília América Ferreira Pinto e da sobrinha Maria Conceição Pinto Madureira, fixou-se na residência de Pedro Augusto Monstans e Júlia Cordier Monstans, marcando seu início na nova terra.

Em Itabuna, D. Otaciana ergueu-se como um farol de sabedoria e serviço, lecionando na rua Floriano Peixoto, outrora chamada rua do Zinco, à frente da escola Água Branca, onde moldou a mente de cerca de 70 alunos, meninos e meninas. Sua influência transcendeu as salas de aula, pois foi uma das fundadoras da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, da Associação das Senhoras de Caridade, do Colégio Divina Providência, da Associação das Filhas de Maria e da Assistência Social, deixando um legado de fé e solidariedade. 

Residiu por longos anos na rua da Laranjeira, hoje Paulino Vieira, mudando-se depois para a rua Lafayette de Borborema, até que o prefeito Miguel Moreira lhe ofereceu duas casas na travessa Rufo Galvão, números 40 e 44, onde viveu seus últimos dias.

Em 1960, a Câmara Municipal e a Associação Comercial de Itabuna a homenagearam com o título de cidadã itabunense, reconhecimento justo a uma vida de serviço.

Sua vida foi interrompida tragicamente em 4 de novembro de 1979, aos 96 anos, vítima de uma queda que lhe causou graves lesões nas costas e na cabeça. Contudo, seu impacto perdurou além da morte: vereadora por três legislaturas nas gestões de Armando Freire, Ubaldino Brandão e Miguel Moreira, D. Otaciana conquistou o coração de Itabuna. Seu enterro, às 16h, reuniu mais de seis mil pessoas — elites e humildes, religiosos e leigos —, num cortejo que celebrou sua memória. Sobrinha do Brigadeiro Antônio de Sena Madureira, Ministro da Guerra no governo de Marechal Deodoro da Fonseca, ela carregava em si um legado de honra, que ampliou com sua generosidade.

Ao partir, D. Otaciana deixou as casas da travessa Rufo Galvão para os sobrinhos-netos Oraciana e Jesuino, perpetuando seu legado familiar. Sua existência foi um hino à dedicação, entrelaçando educação, saúde e fé em prol da comunidade. Os registros de seus partos, os alunos formados e as instituições fundadas são testemunhos vivos de uma mulher que, com humildade e grandeza, escreveu seu nome na história de Itabuna.

A memória de D. Otaciana Pinto permanece como um eco suave nas ruas de Itabuna, onde cada passo seu ressoa nas fundações que ajudou a erguer. Sua vida, tecida com fios de altruísmo e coragem, inspira gerações, lembrando-nos que o verdadeiro legado está no amor ao próximo. Mais que uma cidadã, ela foi uma matriarca espiritual, cuja luz ainda guia os que buscam seguir seu exemplo de bondade e serviço.


sexta-feira, 21 de março de 2025

D. Catarina Alves de Oliveira

D. Catarina Alves de Oliveira veio ao mundo em 1840, em meio às paisagens rústicas da Chapada dos Índios, hoje rebatizada como Cristinápolis, no coração de Sergipe. Filha de José Alves e Maria do Carmo Severina de Oliveira Alves, cresceu enraizada em uma família de tradições sólidas, sendo irmã de Félix Severino do Amor Divino. Seu caminho se entrelaçou ao de Maximiliano José de Oliveira Campos em um matrimônio que a levaria a novas fronteiras. Acompanhada do irmão Firmino Alves e das irmãs Antônia, Alexandrina e Eugênia, além da lembrança melancólica do irmão Vespasiano, perdido aos 19 anos, ela aportou em Itabuna, onde avós e tios já haviam estabelecido laços no bairro Bananeira, tornando-se uma pioneira em terras ainda por desbravar.

Em Itabuna, D. Catarina ascendeu como a primeira dama da sociedade local, uma presença marcante que moldou o destino da região. Com fervor e determinação, envolveu-se na luta pela emancipação do município, deixando um legado indelével. Sua visão altruísta a guiou na fundação de pilares comunitários como a capela de Santo Antônio, a igreja matriz de São José, a Santa Casa de Misericórdia e a Associação das Damas de Caridade, sendo também uma pioneira na Assistência Social. Cada iniciativa refletia sua alma generosa, tecendo uma rede de apoio que sustentaria gerações futuras.

Seu adeus chegou em 1920, quando D. Catarina partiu, deixando um legado vivo em seus muitos filhos e descendentes, cujas trajetórias iluminaram a comunidade. Entre eles, destacam-se Cherubim José de Oliveira e Cícero Alves de Oliveira, figuras que perpetuaram os ideais de serviço e dedicação herdados dela. Sua história, gravada nas fundações que ajudou a erguer e nas memórias de um povo, permanece como um testemunho de uma vida dedicada ao progresso e à fraternidade.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Mário Padre


Nascido em 14 de julho de 1912, Mário Padre trilhou um caminho de múltiplas faces: foi professor primário, bancário e empresário, deixando marcas indeléveis em cada ofício. Sua paixão por Itabuna o transformou em um defensor incansável da cidade, onde liderou campanhas fervorosas em prol de seu desenvolvimento. Pioneiro na industrialização do leite, ele enxergava além do seu tempo, unindo visão empreendedora a um amor profundo pela terra que o acolhia, sempre buscando elevar o progresso local com determinação e ousadia.

Em Vitória da Conquista, sua energia criativa floresceu ainda mais. Sua dedicação à educação se manifestou na criação de um colégio interno, um espaço que formou mentes e corações. Já em Itabuna, como gerente do Banco Econômico, trouxe estabilidade e confiança à comunidade, mas foi além: foi um dos fundadores do bairro Góes Calmon e idealizou o Centro Comercial, moldando o crescimento urbano com mãos visionárias. Na década de 50, ao se eleger deputado estadual, voltou sua força contra os males sociais da época, combatendo com firmeza o jogo do bicho e a prostituição, em uma cruzada por valores que acreditava serem essenciais.

A política o chamou novamente quando se candidatou a prefeito de Itabuna, movido pelo desejo de servir. Em 1979, revelou outro lado de sua alma inquieta ao publicar "Através do Brasil", um diário de viagem que narrava uma jornada épica de 30 mil quilômetros, percorridos em dois meses a bordo de um Fusca, ao lado da esposa e do filho. Por dezenas de cidades, ele mergulhou no pulsar do país, capturando sua essência com sensibilidade e curiosidade. Nos anos finais, dedicou-se à luta pela emancipação de Ferradas, um último ato de amor por sua região.

A vida desse homem de feitos grandiosos foi interrompida em 20 de outubro de 1993, em Salvador, por um trágico acidente automobilístico. Seu legado, porém, permanece vivo nas ruas que ajudou a construir, nas ideias que semeou e na memória de uma existência dedicada a transformar o mundo à sua volta, com coragem e coração.

sábado, 1 de março de 2025

Paulino Vieira


Paulino Vieira do Nascimento, figura de traços firmes e olhar visionário, inscreveu seu nome na galeria dos desbravadores de Itabuna, uma terra que pulsava com o vigor das mudanças no sul da Bahia. Nascido em tempos de incertezas, ele se ergueu como comerciante e fazendeiro na Vila de Tabocas, um núcleo ainda tímido que sonhava com horizontes maiores. Suas terras, vastas e generosas, estendiam-se ao oeste daquele povoado, abraçando o futuro com a mesma determinação que marcava suas ações. Hoje, onde outrora ecoavam os passos de seus cavalos, ergue-se a Rua Paulino Vieira, um tributo perene ao homem que ajudou a moldar a cidade.

Antes de receber seu nome, aquela rua testemunhou a dança das nomenclaturas: foi Rua das Laranjeiras, Rua dos Sertanejos e Rua 12 de Outubro. Mas foi Paulino quem, com sua presença indelével, acabou por batizá-la. Em 1898, fundou a Filarmônica 15 de Março, a primeira de Itabuna, enchendo o ar com notas que falavam de esperança e identidade.

A política também foi palco de suas investidas. Junto ao coronel Firmino Alves, liderou o partido “Pessoísta” em Itabuna, uma força que reverberava os ideais de Antônio Pessoa, ecoando até esferas mais altas como as de J.J. Seabra e o marechal Hermes da Fonseca. Com os coronéis José Firmino Alves e Basílio de Oliveira, visitou o intendente de Ilhéus, Domingos Adami, para comunicar a decisão do povo: Tabocas queria ser livre, e Paulino estava na vanguarda dessa luta.

Não satisfeito em apenas falar, Paulino sabia que as ideias precisavam de um eco mais amplo. Em setembro de 1905, fundou o jornal “O Labor”, uma tribuna impressa que defendia os interesses do grupo Pessoísta e agitava as mentes da vila com debates políticos e sociais. Três anos depois, em 1908, deu vida a “O Democrata”, outro veículo que se tornaria farol para os ideais que ele acalentava. 

A partir de 1912, Paulino consolidou ainda mais sua influência ao liderar o grupo político que ficou conhecido como “Paulinista”. Vinculado a figuras poderosas como Hermes da Fonseca no âmbito federal e J.J. Seabra no estadual, ele se tornou uma ponte entre os anseios locais e as grandes decisões que moldavam o destino do Brasil. 

No campo da administração pública, Paulino também deixou sua marca. Exerceu o cargo de conselheiro municipal – o equivalente ao vereador de hoje – com a mesma dedicação que aplicava em seus outros empreendimentos. 

Sua jornada, no entanto, encontrou um ponto final em 1º de outubro de 1921, quando a morte o levou, deixando um vazio que Itabuna sentiu profundamente. Paulino partiu no auge de sua influência, mas suas sementes já haviam germinado. Ele foi mais que um comerciante ou fazendeiro; foi um arquiteto do futuro.

Assim, Paulino Vieira do Nascimento se eternizou como um dos pilares de Itabuna, um desbravador que, com mãos calejadas e espírito inquieto, abriu caminhos onde antes havia apenas trilhas. Sua vida é um testemunho do poder da ação e da visão, um lembrete de que o progresso de uma cidade não se faz apenas com tijolos, mas com o coração de homens que ousam sonhar. E enquanto a Rua Paulino Vieira cortar o coração de Itabuna, seu nome continuará a sussurrar nas esquinas: aqui viveu um homem que fez história.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

D. Cordolina Loup dos Reis


Em uma era onde as vozes femininas raramente ecoavam nos corredores do poder e da filantropia, D. Cordolina Loup dos Reis ergueu-se como uma figura luminosa na história de Itabuna. Nascida em 1870, nas terras férteis de Ilhéus, ela trouxe consigo um espírito indomável e uma determinação que transcendia os limites de seu tempo. Casada com o Coronel Henrique Alves dos Reis, não se contentou em permanecer à sombra de seu esposo; ao contrário, envolveu-se com fervor nas lides políticas e sociais, tecendo uma rede de ações que marcariam para sempre a comunidade local.

Sua vida foi um hino à solidariedade e à cultura. D. Cordolina esteve entre as fundadoras da Associação das Senhoras de Caridade, um bastião de apoio aos mais vulneráveis, e estendeu suas mãos generosas para colaborar na criação da Filarmônica Lira Popular e do Montepio dos Artistas de Itabuna, preservando a arte como um refúgio para as almas. Pioneira na Assistência Social de Itabuna, ajudou a erguer a Filarmônica Amantes da Lira, o Colégio Divina Providência e a Ação Fraternal de Itabuna, deixando um legado de educação e fraternidade que floresceu nas gerações seguintes. Sua ausência de descendência biológica foi compensada pela progenitura de ideais que ainda hoje inspiram.

Quando a morte a reclamou em 1952, D. Cordolina partiu sem deixar herdeiros diretos, mas com um presente eterno para a humanidade. Com um gesto de altruísmo que ecoa através dos anos, doou a uma congregação de freiras o terreno onde hoje se ergue o orfanato que carrega seu nome, situado na Rodovia Itabuna/Ilhéus, defronte à CEPLAC. Ali, entre os muros de uma instituição que acolhe os desamparados, reside a memória viva de uma mulher que, com sua dedicação e visão, transformou o tecido social de sua terra, tornando-se um símbolo de generosidade e pioneirismo.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Coronel Henrique Alves: de filho de escravos a patriarca do cacau


No coração do terceiro distrito de Ilhéus, em Cachoeira de Itabuna, nasceu Henrique Alves dos Reis, em 19 de maio de 1861. Filho de Chiquinha, uma mulher escravizada, e do padre Badaró, seu senhor, Henrique carregava em suas veias a herança de um passado marcado pela opressão, mas também a promessa de um futuro moldado por sua determinação. Órfão de cuidados paternos diretos, foi acolhido pelo Coronel João Berbert, amigo de seu pai, que lhe proporcionou um lar e os primeiros vislumbres de uma vida além das amarras da escravidão. Criado entre as paisagens rurais da Bahia, o menino Henrique cresceu com o espírito inquieto, pronto para traçar seu próprio caminho.

Aos 15 anos, com uma passagem fugaz pela escola, Henrique já demonstrava uma sagacidade incomum. Trocou os bancos escolares pelas prateleiras de um armazém que ele mesmo abriu, fornecendo gêneros alimentícios, utensílios domésticos e ferramentas aos trabalhadores rurais da região. Esse primeiro empreendimento foi o embrião de uma trajetória de ascensão meteórica, onde a visão comercial e o tino para os negócios começaram a desenhar sua reputação. O armazém não era apenas um ponto de comércio, mas um espaço de conexão com a comunidade, onde Henrique aprendia as necessidades e os anseios daqueles que cruzavam seu caminho.

Em 1895, a morte de sua mãe, Chiquinha, trouxe uma reviravolta significativa. Herdeiro da Fazenda Sempre Viva, doada pelo padre Badaró à sua ex-escrava, Henrique viu naquela terra uma oportunidade de construir um império. Com mãos firmes e uma visão ambiciosa, ele transformou a propriedade em um polo de produção de cacau, expandindo suas posses com a aquisição de outras fazendas, como Alegria, Transval, Rio do Braço, Limoeiro, Palha, Ferradas, Pedrinhas, Catolé e Mutuns. Sob sua administração, essas terras alcançaram a impressionante marca de 30 mil arrobas de cacau por ano, sustentadas pelo trabalho de 250 empregados, consolidando-o como um dos grandes barões do cacau no sul da Bahia.

A vida pessoal de Henrique também foi marcada por laços profundos. Casou-se duas vezes: primeiro com Rita de Cássia Loup, com quem teve uma filha, Elvira Rita dos Reis, e, após enviuvar, com Cordolina Loup dos Reis. Sua família, embora pequena, era o alicerce de sua existência, equilibrando a rigidez dos negócios com a ternura do lar. Mas Henrique não se limitava ao campo ou ao comércio; sua ambição o levou à esfera pública, onde sua influência cresceu ainda mais. Nomeado pelo intendente de Ilhéus, Coronel Domingos Adami, para chefiar o partido governista no arraial de Tabocas, ele mergulhou na política local, tornando-se uma figura central na comunidade.

Uma das demandas mais urgentes dos moradores de Tabocas era a transformação de uma lagoa infestada de cobras e jacarés em um espaço público digno. Henrique abraçou a causa com determinação, comprometendo-se a construir a maior praça pública do interior baiano. Batizada em homenagem ao Coronel Adami, a Praça Adami tornou-se um símbolo de sua capacidade de transformar sonhos em realidade. 

Como sétimo intendente de Itabuna, entre 1926 e 1928, Henrique deixou um legado administrativo notável. Sua gestão foi marcada por obras que modernizaram a cidade: calçou ruas, instalou canos de esgoto, construiu a ponte do Ribeirão, hoje conhecida como Cajueiro, e ergueu a cadeia pública, custeando boa parte das despesas com recursos próprios. Sua eficiência e visão urbanística trouxeram progresso a Itabuna, consolidando-a como um polo regional. 

O prestígio de Henrique junto ao governador da Bahia, Francisco Marques de Góes Calmon (1924-1925), foi decisivo para conquistas ainda maiores. Graças a essa relação, ele conseguiu viabilizar a construção da ponte Góes Calmon e outros melhoramentos para a região. Sua influência política e econômica fez dele uma figura quase mítica, capaz de articular interesses públicos e privados em prol do desenvolvimento. 

Henrique Alves dos Reis faleceu em 8 de janeiro de 1940, deixando um legado que transcende gerações. De filho de escravos a um dos maiores produtores de cacau e líder político de sua região, sua vida é um testemunho de resiliência e visão. Suas fazendas, suas obras públicas e sua dedicação à comunidade de Itabuna permanecem como marcos de uma era de transformação no sul da Bahia. Henrique não apenas cultivou cacau, mas plantou sementes de progresso, cujos frutos ainda ecoam na memória coletiva da região.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Manoel Leão


Pedro Emannuel Garcia Moreno de Souza Leão, conhecido simplesmente como Manoel Leão, veio ao mundo em 25 de agosto de 1938, em Itabaiana, Sergipe, como o terceiro filho do pioneiro Joaquim Soares de Souza Leão, apelidado Juca Leão, e de Eurianta Garcia Moreno de Souza Leão. Herdeiro de uma linhagem de desbravadores, Manoel carregava no sangue a coragem de quem enxerga além do horizonte. Sua história, porém, não se limitou às raízes sergipanas; ela se entrelaçou com a terra bruta de Burundanga, no arraial de Tabocas, onde ele se instalou no início do século XX, contribuindo para o florescimento de Itabuna, na Bahia. Ali, em meio ao aroma do cacau e ao calor do sertão, ele começou a escrever seu legado.

Manoel não era homem de se contentar com pouco. Ao abrir suas terras para familiares e migrantes de Sergipe e regiões vizinhas, ele transformou Burundanga em um ponto de convergência, onde sonhos alheios encontravam solo fértil. O pequeno arruado que ali nasceu, batizado mais tarde como bairro Juca Leão em homenagem a seu pai, foi o resultado de sua generosidade e visão. Ele não apenas acolheu pessoas, mas plantou a semente de uma comunidade, unindo estranhos em um propósito comum: construir uma vida nova em uma terra ainda selvagem, onde o futuro dependia da união e do trabalho coletivo.

Sua liderança se revelou também no impulso ao progresso econômico do arruado. Manoel viabilizou empreendimentos que se tornaram alicerces da comunidade nascente, como o Matadouro Bela Vista, os armazéns para estocagem de cacau do Instituto do Cacau da Bahia (ICB) e o Empório Comercial "Moisés Construção". Essas iniciativas não só atenderam às necessidades imediatas dos moradores, mas também fortaleceram a economia local, conectando o bairro à pujante indústria cacaueira que definia a identidade de Itabuna. Com pragmatismo e ousadia, Manoel transformou sua visão em estruturas concretas, que sustentaram o crescimento da região.

Mais do que um empreendedor, Manoel foi um defensor incansável do bem-estar de sua comunidade. Ele lutou pela instalação de uma escola e de um posto médico no bairro Juca Leão, entendendo que o verdadeiro progresso vai além da prosperidade material. A escola abriu portas para o conhecimento, enquanto o posto médico trouxe alívio e segurança às famílias que, antes, enfrentavam longas distâncias em busca de cuidados. Essas conquistas, fruto de sua persistência, consolidaram o bairro como um lugar onde a vida podia pulsar com dignidade, deixando um impacto que ecoaria por gerações.

Até seu falecimento, em 15 de julho de 2003, Manoel Leão viveu como um farol para sua gente. Sua trajetória é a de um homem que, com gestos simples e uma determinação inabalável, transformou um pedaço de terra esquecido em um espaço de esperança e convivência. O bairro Juca Leão permanece como testemunho de seu legado, um monumento vivo à sua capacidade de unir pessoas e construir futuros. Manoel partiu, mas suas raízes continuam a sustentar a comunidade que ele ajudou a erguer, um lembrete de que a verdadeira grandeza nasce do compromisso com os outros.