Por Cláudio Apê A. Freire
Hoje acordei mais nostálgico do que de costume. Deixei-me levar de volta aos anos 60, transportando-me para o jardim da antiga prefeitura de Itabuna. O famigerado Jardim da Prefeitura! Naqueles anos dourados, ainda adolescente, aquela praça lendária era o point da juventude, onde tudo acontecia em torno da paquera e dos modismos da época. Os sábados e domingos à noite eram o ápice dos acontecimentos semanais, uma verdadeira apoteose de encontros e desencontros.
A preparação para aqueles momentos mágicos — que, diga-se de passagem, resultaram em muitos casamentos e famílias — começava já na tediosa segunda-feira, como um ritual sagrado. A expectativa crescia à medida que os dias passavam e o fim de semana se aproximava. Era preciso ter a “mina” já em vista e, caso houvesse reciprocidade — ou seja, se a garota “desse mole” ou “bola”, como se dizia na época —, não havia espaço para hesitações. A abordagem precisava ser fluente e interessante, para não ser tachado de “porre”. Ensaios eram essenciais para evitar vexames e expor a temida timidez.
A aparência também não podia ser negligenciada. As regras da paquera exigiam roupas da moda: uma calça Lee, comprada na “Ilha dos Ratos” em Salvador, ou uma Topeka, adquirida nas Casas Sales ou na J. Rihan (conhecida por seus artigos de qualidade), combinadas com uma camisa de anarruga e uma botinha Calhambeque, caíam muito bem. O perfume, claro, era indispensável — podia ser o “Lancaster” ou a “English Lavander”. Tudo era meticulosamente planejado, afinal, a concorrência era acirrada, especialmente com os playboys vindos de Ilhéus, Salvador ou do sul do país.
Mas voltemos ao nosso cenário principal: o Jardim da Prefeitura. Nos fins de semana, o desfile começava pontualmente às 20 horas. Os jovens circulavam em sentido horário ou anti-horário, dependendo do flerte em questão. Para as moças sob rigorosa vigilância dos pais, o horário de encerramento era impreterivelmente às 22 horas, sob pena de serem repreendidas com “brados retumbantes” e castigos. Já os mais libertos, que podiam ultrapassar o horário “regulamentar”, tinham acesso a duas programações emblemáticas, que às vezes se estendiam até a madrugada.
A primeira opção, para os sortudos que tinham carro, era sintonizar a Rádio Mundial do Rio de Janeiro e ouvir, em alto volume, o programa “Ritmos de Boite”, apresentado pelo talentoso e precocemente falecido DJ Newton Alvarenga Duarte, o Big Boy. O programa trazia os maiores sucessos da época, com artistas como Johnny Rivers, George Benson, Scott McKenzie, Beatles, Rolling Stones, The Mamas and The Papas, Herman’s Hermits, The Cowsills e muitos outros.
A segunda atração era a domingueira dançante do Itabuna Clube. Lá, ao som de conjuntos como Lord Ritmos, Os Grapsons e Joel Carlos, os casais se exibiam em diversos ritmos. Destaques como os irmãos Humberto e Simone Netto, que arrasavam nas músicas caribenhas; os irmãos Biró e Vera Apê, no twist; Duduca Paixão e suas parceiras, no rock’n’roll; e Ceiça Sá e Gilsinho Rodrigues, nos boleros deslizados no salão encerado com cera Parquetina, faziam a alegria da galera. Tudo isso sob o olhar atento do rigoroso gerente do clube, Sr. Jacinto, que, com suas calças um tanto frouxas, vivia o dilema de decidir se repreendia os casais dançando coladinhos ou se ajustava suas roupas.
Hoje, embora a praça ainda exista (agora chamada Praça Olinto Leone), os points da juventude mudaram de localização, especialmente com o advento dos shoppings centers e as mudanças comportamentais dos jovens modernos. No entanto, os programas daquela época — como os cinemas, teatros, piscinas do GTC e as belas praias de Ilhéus — preenchiam o tempo e os anseios dos jovens de Itabuna dos anos 60, sem nada dever às grandes metrópoles do Brasil.
Por isso, é justificável essa minha nostalgia. Aqueles tempos dourados, que começavam no querido e saudoso Jardim da Prefeitura, deixaram marcas profundas em todos que viveram aquela época de plena e irrestrita felicidade. E é com imensa saudade que relembro esses momentos, celebrando a magia daquela juventude que, mesmo distante no tempo, permanece viva na memória e no coração.