quarta-feira, 22 de abril de 2020

O homem que foi buscar uma caveira meia noite no cemitério


Minelvino Francisco Silva
"O trovador apóstolo"

O homem bicho feroz
Que topa na sua linha,
A fera mais temerosa
Até a mãe da morrinha,
Mas se achar de ter mêdo
É pior do que galinha.

Aqui eu conto uma história
Que foi uma caso funério,
Do homem que apostou
Num assunto muito sério
Pra ir buscar uma caveira
De noite no cemitério.

Baldoíno era um rapaz
Que muito alegre vivia,
Numa fábrica de bebidas
Lutava por noite e dia,
E tornou-se um viajante
Pelo norte da Bahia.


O seu patrão confiava
E dava todo valor,
Ele era quem vendia
Também era o cobrador,
Para ele aquele emprego
Era um jardim de flor.

Baldoíno a confiança
Do patrão não merecia,
Porque era jogador
Em toda parte que ia
Aonde tivesse um jogo
Ele lá dentro caía.

Perdia o dele e o dos outros
Se a hora fosse chegada,
Jogava até a mulher
Que com ele era casada,
E o patrão inocente
Porque não sabia de nada.

Dava toda confiança
Aquele seu emprego
Para receber dinheiro
Não dava o menor cuidado,
Nunca pensava que fosse
Por Baldoino lesado.

Certa vez o seu patrão
Com a maior confiança,
Mandou ele ir fazer
Uma avultada cobrança
Numa cidade distante
De nome boa esperança.

Ali seguiu Baldoino
Lá na cidade chegou.
Fez a cobrança e o povo
Curiosamente pagou
Mas um jogador da praça
Tudo isso observou.

Falou sem os seus colegas
Que ali tinha um caixeiro,
Conhecido viajante
Parecendo um fazendeiro,
O certo é que ele estava
Na certa cheio de dinheiro.

Vamos saber qual o hotel
Desta sua hospedaria,
Porque não tinha transporte
Pra voltar no mesmo dia
TInha que dormir ali
No outro então voltaria.

Com conversinhas amigas
Foram ao moço visitar,
Dizendo que eram amigos
Do povo desse lugar,
Vai conversa e vem conversa
Chamaram-o para jogar.

Ele gostava da coisa
Esse convite aceitou,
Marcaram a hora e o lugar
E tudo certo ficou,
Na cafua as 8 horas
Da noite o moço chegou.

TInha quatro jogadores
Esperando o bobalão,
Cada um mais preparado
Estava de prontidão,
Com a consência de rato
E com o baralho na mão.

Baldoino foi chegando
Cada um deu uma risada,
Dizendo: seja bem vindo
Este amigo e camarada,
Mandaram ele sentar-se
Naquela mesma bancada.

Ele sentou-se, na hora
O baralho apareceu,
Ele cortou e parou
Na dama o dinheiro seu,
Quando virou o baralho
A carta centrária seu.

Ele cortou novamente
O outro mandou parar,
Nos dez de paus que saiu
Ele não quiz aceitar,
Parou na quadra e depois
O outro tornou a ganhar.

Ele se desacertou
Os ladrões eram mexendo,
O baralho com a patota
Ele apostando e perdendo,
O seu dinheiro acabando
E ele esmorecendo.

Quando deu a meia noite
O dinheiro do patrão,
Já tinha se acabado
Não existia um tostão,
Os ladrões pararam o jogo
Entraram em conversação.

Relativo ao homem mole
E também o corajoso,
Que pega cobra com a mão
e bicho misterioso,
Que não se assombra com alma
Nem dá sinal de medroso.

Já era doze da noite
Naquele instante funério,
Disse um: eu quero ver
O coajoso critério,
Que vá buscar uma caveira
Agora no cemitério.

Baldoino de tão triste
Pensava se suicidar,
Perguntou ao jogador
Se eu for quanto me dar?
Eu dou cinquenta mil réis
uerendo pode ir buscar.

E começaram a jogar
Se esqueceram do passado,
Baldoino o cemitério
Saltou pelo poutro lado,
E o que foi fazer medo
Ficou por trás acoado.

Baldoino nessa hora
Foi pegando uma caveira,
Ouviu uma vóz por trás
Fanhosa o bem presepeira:
Larga ai que é do meu pai
Pegou a segunda e a terceira.

Larga ai que é de minha mãe
A voz tornou a falar,
Ele aí pegou a quarta
A voz tornou a replicar,
Seja esta do diabo
É ela que vou levar.

Naquele mesmo momento
Agarrou esta caveira,
E saltou do cemitério
saiu doido na carreira,
Que o cara que estava olhando
Dele só viu a poeira.

O Baldoino corria
Com um medo tão vorás,
Que nem bala de revólver
Alcançaria aí minha caveira
O cara gritava atrás.

Quando ele chegou lá
Os jogadores jogando
E ele em cima da banca
Foi a caveira atirando,
Tome lá o seu diabo
Foi desta forma gritante.

E o dono vem aí
Atrás para me tomar,
Os jogadores com medo
Correiram tudo a gritar,
Deixando todo o dinheiro
Ele se pôs a juntar.

Ajuntou todo dinheiro
Naquele medrosa hora,
E fez depressa um pacote
Saindo de porta a fora,
Com destino ignorado
Baldoino foi embora.

Chegou lá deu ao patrão
Aquele grande valor,
Que ele tinha recebido
Do seu povo devedor
Com o resto foi viver
Não quiz mais ser jogador.

FIM

Nenhum comentário: