Itabuna: uma cidade à procura de sua memória

Por Cláudio Apê A. Freire

Desde sua emancipação política e administrativa em 1910, Itabuna experimentou um surto desenvolvimentista que a colocou entre as cidades mais prósperas da Bahia. 

Impulsionada pela economia cacaueira, essa era de prosperidade perdurou até os anos 1970, quando a crise da vassoura-de-bruxa devastou as lavouras e abalou sua hegemonia. Nas décadas seguintes, o município viu-se superado por outros centros em indicadores demográficos, econômicos e socioculturais.  

Apesar dos desafios, Itabuna, polo regional de comércio e serviços, tem buscado recuperar seu vigor através da resiliência de sua população. Aos poucos, surgem melhorias em infraestrutura e dinamismo urbano, mas a cidade ainda padece de graves deficiências em qualidade de vida e, sobretudo, na preservação de sua memória histórica.  

No dia 28 de julho, enquanto celebrava 115 anos de emancipação, Itabuna foi vítima de um ato simbólico de sua amnésia coletiva: o busto do Comendador Firmino Alves, fundador da cidade, foi roubado da Praça Santo Antônio, seu marco inaugural. 

O episódio escancara um padrão de descaso. Antes disso, testemunhamos a demolição da residência de Firmino Alves, a destruição do Castelinho do coronel Domingos Brandão (seu genro), o abandono do antigo artesanato da cadeia pública, a degradação do Grapiúna Tênis Clube e o esquecimento de Ferradas, berço de Jorge Amado.  

Essa erosão da memória não é acidental. Reflete a falta de políticas públicas articuladas entre poder municipal e iniciativa privada para valorizar o patrimônio material e imaterial. Reverter esse quadro exige mais que restauração de prédios: demanda um projeto que reinsira Itabuna no mapa econômico e sociocultural da Bahia, transformando ruínas em espaços de educação e turismo, resgatando narrativas e honrando seus pioneiros.  

Sem essa virada, o epitáfio da cidade será: "Itabuna, uma cidade sem memória".