terça-feira, 29 de abril de 2025

Cel. Miguel Moreira



Miguel Fernandes Moreira nasceu em 1885, na cidade de Santo Amaro, Bahia, fruto da união de Pedro Fernandes Moreira e Maria Madalena da Cunha Moreira. Desde a infância, demonstrou curiosidade e inteligência, tendo aprendido as primeiras letras aos seis anos, sob a orientação do professor Augusto Freire de Carvalho. Em 1898, ainda jovem, iniciou sua trajetória profissional trabalhando em um engenho de cana-de-açúcar pertencente ao Visconde de Oliveira, experiência que moldaria sua visão prática e empreendedora. Mais tarde, uniu-se em matrimônio a D. Elvira dos Reis Moreira, carinhosamente chamada de Senhorazinha, filha do Coronel Henrique Alves dos Reis.

Foi no ano de 1908 que Miguel Moreira chegou ao então Arraial das Tabocas, onde fincou raízes e construiu uma trajetória que se entrelaça à própria história do município de Itabuna. Tornou-se um dos maiores proprietários de terra da região e dedicou-se com fervor ao progresso local. Foi protagonista na fundação de instituições que marcaram o desenvolvimento da cidade, como a Santa Casa de Misericórdia, a Associação Comercial, a Loja Maçônica, o Banco Rural, o Banco do Brasil, filarmônicas, irmandades religiosas e o tradicional Itabuna Clube.

Como homem público, Miguel Moreira exerceu papel de destaque. Atuou como um dos primeiros conselheiros municipais e, posteriormente, assumiu a prefeitura da cidade. Durante sua administração, promoveu importantes obras de infraestrutura: implantou a usina de luz elétrica, deu início à pavimentação de ruas nos bairros de Fátima, Mangabinha, Pontalzinho, Califórnia e Conceição, e construiu o matadouro municipal. Sua liderança firme e visionária culminou na recepção, em sua própria casa, do presidente da República, João Café Filho, e do General Juarez Távora, no último ano de seu mandato.

Miguel Moreira faleceu em 1966. Era conhecido por sua personalidade jovial, sua simplicidade e pela agradável convivência com todos. Sua figura permanece viva na memória de Itabuna como símbolo de pioneirismo e de amor à terra que ajudou a construir com mãos firmes e espírito generoso.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Ottoni Silva, um dos principais nomes da imprensa de Itabuna


Filho dos cacaueirais de Ilhéus, Ottoni Silva veio ao mundo em 20 de dezembro de 1915 e cedo trocou o banco escolar — que cursou apenas até o elementar incompleto — pela lida prática de eletricista-instalador e gráfico. Foi nesse ofício que aprendeu a decifrar fios, tipos e engrenagens, alicerçando uma carreira predestinada a unir a seiva da terra ao pulso ardente da imprensa.

Na década de 1930, o jovem operário bate às portas do semanário O Intransigente, comandado pelo coronel Henrique Alves. Começa como auxiliar de tipografia, mas logo faz do chumbo o seu alfabeto de combate: ascende a redator-chefe e, com audácia, converte o jornal em diário, transformando-o em caixa de ressonância dos ventos de mudança que varriam o sul da Bahia. Três décadas de direção consolidaram seu nome como uma das vozes mais tenazes da região.

A veia empreendedora não tardou a transbordar. Em 1956, Ottoni funda a Rádio Clube de Itabuna, adquirindo-a posteriormente para doá-la à Igreja Católica num gesto de nobre desprendimento. No ano seguinte, une-se a Zildo Guimarães e José Oduque para lançar o Diário de Itabuna, que por quase quarenta anos seria o farol informativo da cidade. O veterano, então com noventa e um anos e já aposentado, ainda irradiava inspiração às gerações que não presenciaram seus feitos.

Para além das redações, Ottoni marcou a vida pública com a mesma paixão. Fundou o Ginásio Noturno Firmino Alves, ergueu — com a força solidária da comunidade — o Itabuna Social Clube e exerceu o cargo de Secretário-Executivo da Santa Casa. Foi titular de cartório de registros, irmão ativo da Maçonaria, leonino dedicado no Lions Club e dono do serviço de alto-falante SRPC, adquirido de Mário Caldas, multiplicando canais de voz para a coletividade itabunense.

Tal dedicação lhe valeu o Título de Cidadão Itabunense, outorgado pela Câmara Municipal, selando sua condição de ilheense por nascimento, itabunense por adoção e mérito. Uma rua do bairro Pontalzinho ostenta seu nome, lembrando que nenhum grande movimento cívico ou cultural da cidade deixou de carregar sua assinatura ou o eco de sua influência discreta.

Ottoni Silva encerrou sua jornada em 22 de agosto de 2011, aos noventa e cinco anos, no Hospital Calixto Midlej. Deixou, porém, mais que memória: deixou-nos o perfume do cacau entrelaçado ao cheiro de tinta fresca, exemplo de que as páginas da história se escrevem com coragem, serviço e fé inquebrantável no poder transformador da palavra impressa.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Cel. Francisco Fontes da Silva Lima e D. Laurinda Fontes Torres Lima


Francisco Fontes da Silva Lima nasceu em 4 de junho de 1876, na cidade de Estância, no estado de Sergipe. Filho de uma época de escassas oportunidades educacionais, concluiu apenas o curso primário, interrompido pelas dificuldades inerentes ao ensino naquele período. Aos treze anos, ingressou na vida comercial, ajudando sua mãe, que, ao ficar viúva precocemente, montou uma loja de tecidos em Cachoeira de Abadia. Em 1903, acompanhado de seu primo e cunhado, José Fontes Torres, mudou-se para a então vila de Tabocas, onde deu continuidade aos negócios têxteis sob a razão social Fontes Torres.

A trajetória de Francisco se entrelaça com o crescimento de Itabuna. Homem de espírito cívico, integrou-se à vida da comunidade e tornou-se seguidor fiel do Coronel José Firmino Alves, compartilhando com ele os ideais de progresso para a região. Junto a outros cidadãos devotados, fundou a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, instituição essencial à assistência social da cidade, da qual foi Provedor. Sua atuação na política municipal foi marcante: exerceu o cargo de conselheiro em diversas legislaturas e, em 1930, ocupava a presidência da Câmara de Vereadores quando o golpe de Getúlio Vargas alterou os rumos do país, levando-o a afastar-se da política para dedicar-se exclusivamente ao comércio e à lavoura.

Homem de personalidade discreta e avesso aos holofotes, Francisco preferia a ação silenciosa aos discursos grandiosos. Viveu de forma reservada, sem buscar reconhecimento público, mas com firmeza e dedicação inabaláveis às causas que abraçava. Sua atuação, embora muitas vezes velada, foi decisiva no fortalecimento das estruturas sociais e econômicas do sul da Bahia, contribuindo para o desenvolvimento de uma região que, então, ainda dava seus primeiros passos rumo à modernidade.

Casou-se com sua prima Laurinda Fontes Torres Lima, com quem construiu uma família marcada por laços fortes e vivências profundas. Faleceu em 15 de janeiro de 1967, aos 90 anos, deixando como legado não apenas os frutos de seu trabalho, mas também os filhos: Maria Luíza, Luiz, José, Maria de Lourdes, Margarida, Antônio e Anízia — esta última, a única sobrevivente à época da redação desse registro. A memória de Francisco Fontes da Silva Lima permanece viva na história de Itabuna, como símbolo de compromisso, trabalho e dedicação ao bem comum.

Laurinda Fontes
Laurinda Fontes Torres Lima nasceu em 19 de outubro de 1886, na localidade de Cachoeira de Abadia, na Bahia. Desde cedo demonstrou espírito altruísta e profundo senso de comunidade, qualidades que se tornariam marcas de sua trajetória. Aos 18 anos, em 1904, casou-se com seu primo Francisco Fontes da Silva Lima e, acompanhada dele e do irmão José Fontes Torres, chegou ao Arraial de Tabocas, onde fincou raízes e passou a desempenhar um papel ativo na vida social e religiosa da nascente comunidade que viria a se tornar Itabuna.

Com uma impressionante vocação para o serviço ao próximo, Laurinda participou da fundação de importantes instituições que marcaram a história da cidade. Foi uma das idealizadoras da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, da Sociedade Montepio dos Artistas e da Filarmônica Amantes da Lira. Seu envolvimento estendia-se também à educação e à caridade: contribuiu para a criação do Colégio Divina Providência e da Associação das Senhoras de Caridade, onde exerceu o cargo de primeira presidente. Não mediu esforços para integrar e fortalecer os laços de fé e solidariedade entre os moradores, sendo também fundadora da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus e da Irmandade da Terra Santa.

Mais do que presença em solenidades ou em cargos honoríficos, Laurinda dedicou-se com fervor às causas sociais. Com recursos próprios, construiu moradias para famílias carentes, organizava e participava ativamente de festas cívicas e religiosas, tornando-se figura central na vida comunitária. Sua passagem por Itabuna foi breve em anos, mas profunda em legado. Faleceu em 1941, aos 54 anos, em Salvador, deixando um exemplo de generosidade e compromisso social que permanece vivo na memória da cidade que ajudou a construir.

domingo, 13 de abril de 2025

O eco inflexível de Manoel Leal de Oliveira

 


Na cidade de Itajuípe, Bahia, em 29 de maio de 1930, nascia Manoel Leal de Oliveira, um homem cuja vida seria marcada por um compromisso incansável com a verdade. Filho de uma terra onde o cacau moldava sonhos e conflitos, Manoel começou a trabalhar aos 12 anos em uma fábrica de sorvetes em Itabuna, carregando desde cedo a determinação que definiria seu destino. Com estudos até o segundo grau, ele encontrou no jornalismo sua vocação, uma chama que o levou a trabalhar em publicações como Última Hora e Jornal do Commercio no Rio de Janeiro, onde já demonstrava sua coragem ao defender um colega, sendo acusado de comunista e deixando o emprego por princípios.

De volta à Bahia, Manoel fundou, em 1952, o jornal A Terra em Itabuna, um veículo combativo que desafiava os poderosos e dava voz aos marginalizados. Sua escrita polêmica, afiada como uma lâmina, incomodava elites e autoridades, mas conquistava leitores pela honestidade. Em 1960, criou a Tribuna Regional e, em 1987, ao lado do escritor Hélio Pólvora, lançou o Cacau Letras, um jornal literário, e o A Região, que se tornaria seu principal legado. Esses projetos refletiam sua visão de jornalismo como ferramenta de transformação, um espelho da realidade que não se curvava a pressões. Por sinal, a coluna mais lida do A Região era a "Malha Fina", escrita pelo próprio Manoel, onde era realizada a grande maioria das denúncias bombásticas, em tópicos curtos e impactantes.

Além do jornalismo, Manoel era um homem de múltiplas facetas. Plantador de cacau desde os anos 1950, atuou como consultor do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau e dirigiu a Companhia Viação Sulbaiana a partir de 1978. Proprietário da gráfica Colorpress, ele dominava o ciclo da palavra impressa, da criação à distribuição. Sua vida profissional, contudo, não o afastava da simplicidade: aos domingos, frequentava a casa de praia do amigo Agostinho “Guga” Nunes, onde se entregava a momentos de lazer, ou passeava com seu cão fox, Átila, por quem nutria um carinho especial. Como passatempo, encantava com truques de magia, revelando um lado lúdico que contrastava com sua firmeza jornalística.

Casado com Wanda Vicentini de Oliveira, Manoel era pai de Marcel Leal, 37 anos, Valéria Leal, 34, e Adriana Leal, 33, na época de sua morte. Sua família era o alicerce de uma existência dedicada ao trabalho e à justiça. Reconhecido por sua atuação em prol dos necessitados, ele recebeu o Prêmio CDL de Imprensa como Melhor Jornal e homenagens por sua solidariedade. Sua vida, porém, era marcada por tensões: o jornalismo investigativo que praticava o colocava na mira de adversários, e ele sabia que a verdade tinha um preço alto.

Em 14 de janeiro de 1998, por volta das 20 horas, Manoel Leal de Oliveira foi assassinado com seis tiros ao chegar em sua casa no bairro Jardim Primavera, em Itabuna. Naquele dia, sinais de ameaça já pairavam: às 16 horas, ele recebeu um telefonema alertando que talvez não estivesse vivo no dia seguinte; às 18 horas, um funcionário de sua gráfica foi avisado de um plano para agredi-lo. Uma caminhonete Silverado com suspeitos foi vista perto de sua residência horas antes do crime. A Polícia Federal apontou três suspeitos – Marcone Sarmento, mas a investigação local considerou as provas insuficientes, e o caso foi arquivado.

O assassinato de Manoel gerou comoção nacional e internacional. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) cobraram justiça, mas a impunidade prevaleceu. Em 2000, o deputado Aloizio Mercadante denunciou a falta de punição e pediu proteção para Geraldo Simões, ex-prefeito de Itabuna, que temia represálias. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) levou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que recomendou indenização à família, paga em 2010, e a reabertura das investigações. Apesar disso, os mandantes intelectuais do crime seguem sem identificação, e o caso permanece como um símbolo da violência contra a imprensa no Brasil.

Manoel Leal de Oliveira viveu como um farol em meio à escuridão da corrupção e da opressão. Seu jornalismo destemido, que investigava desde irregularidades políticas até abusos de poder, custou-lhe a vida. Mesmo após sua morte, seu legado perdura: Marcel Leal, seu filho, assumiu o comando do A Região e da rádio Morena FM, mantendo viva a chama do jornalismo local. A luta contra a impunidade, porém, continua, com julgamento de um suspeito, absolvido em 2005 mas julgado novamente em 2019, refletindo a lentidão da justiça.

A trajetória de Manoel é um testemunho da coragem de enfrentar o poder com a palavra. Seu assassinato, ainda envolto em sombras, é um lembrete do preço pago por aqueles que ousam iluminar a verdade. Em Itabuna, onde o cacau já não reina como antes, o eco de suas reportagens permanece, inspirando novas gerações a resistirem e a persistirem, como ele fez, até o último instante.

terça-feira, 8 de abril de 2025

José Oduque Teixeira


Nascido em 18 de outubro de 1923, na cidade de Ribeirópolis, em Sergipe, José Oduque Teixeira construiu uma trajetória de vida marcada pela versatilidade e pelo comprometimento com o desenvolvimento social e econômico. Bacharel em Direito, também atuou como contabilista, empresário e agricultor, deixando sua marca em diferentes áreas de atuação. Transferiu-se para Itabuna, onde se tornou uma das figuras públicas mais respeitadas da cidade, exercendo com distinção os cargos de presidente do Rotary Clube, da Associação Comercial, prefeito em 1973 e, posteriormente, secretário de Administração em 1977.

Durante sua gestão como prefeito, imprimiu um estilo administrativo pautado pela austeridade, seriedade e profundo respeito pela coisa pública. Enfrentou desafios financeiros com firmeza e eficácia, saneando as contas municipais, valorizando os servidores públicos e promovendo um expressivo aumento da arrecadação. Seu cuidado com os gastos pessoais e de recursos públicos o rendeu uma sólida fama de "pão duro", inspirando inúmeras piadas e anedotas com esse tema.

Entre suas realizações, destacam-se a ampliação do sistema de telefonia e o início do asfaltamento das principais vias urbanas, modernizando a infraestrutura da cidade e melhorando a qualidade de vida da população.

Visionário, foi responsável por implantar o CITA (Centro Industrial de Itabuna), criando um novo eixo de desenvolvimento ao atrair empresas como a Nestlé, a Coograp e diversas indústrias de pequeno porte. Em 28 de julho de 1977, inaugurou o Centro Administrativo da cidade — posteriormente sede das faculdades FTC e UNEX de Itabuna —, obra construída com recursos próprios do município, símbolo de sua competência e comprometimento com o progresso regional. Também se destacou no campo da comunicação, como fundador da Rádio Jornal e do jornal Diário de Itabuna, veículos que contribuíram para fortalecer o debate público e a cidadania.

Em 18 de outubro de 2023, cercado por familiares e amigos, celebrou o centenário de vida em uma emocionante comemoração realizada na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Pouco mais de um mês depois, em 29 de novembro de 2023, faleceu em sua residência, em Itabuna, deixando um legado de trabalho, ética e dedicação exemplar ao serviço público e à comunidade.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Firmino Rocha


José Firmino Alves Rocha, mais conhecido como Firmino Rocha, nasceu em 7 de junho de 1919, em Itabuna, terra que carrega o legado de seu avô, o fundador Firmino Alves. Dotado de uma sensibilidade rara, emergiu como um dos poetas mais brilhantes da região, deixando sua marca tanto nas letras quanto na vida comunitária. Ainda jovem, envolveu-se na política estudantil e abraçou o Integralismo com fervor, enquanto em Salvador, onde se formou em Ciências e Letras, forjou sua voz poética. Suas obras, como "Fiz o Verso" (1961), "Poemas Com Muito Amor" (1961), "O Canto do Dia Novo" (1868) e "Momentos" (1969), revelam um coração que pulsava em versos, integrando-o à prestigiosa oficina lírica.

Entre suas criações, o poema "Deram Um Fuzil ao Menino" destaca-se como um hino à paz, gravado em bronze na sede da ONU e imortalizado em uma antologia internacional. Essa obra, nascida de sua pena sensível, transcendeu fronteiras, ecoando os anseios de um mundo mais humano. Além de sua contribuição literária, Firmino Rocha dedicou-se à Imprensa sul-baiana, onde suas palavras ajudaram a narrar e moldar a identidade da região, consolidando seu nome como um farol cultural em meio às paisagens cacaueiras.

Sua jornada terrena findou-se prematuramente em 1º de julho de 1971, aos 52 anos, na vizinha Ilhéus, deixando um vazio que suas estrofes ainda tentam preencher. O legado de Firmino Rocha permanece vivo nas páginas de seus livros e nas memórias de Itabuna, onde sua poesia continua a inspirar. Neto de um pioneiro, ele foi mais que um poeta: foi um cronista da alma, cuja voz, gravada em bronze e papel, ressoa como um convite à reflexão e à beleza.