Otaciana Pinto veio à luz em 14 de julho de 1883, no humilde arraial do Galeão de Cairu, próximo a Valença, na Bahia. Desde os cinco anos, suas primeiras letras foram traçadas sob o olhar atento da tia, a dedicada professora Ana Ferreira de Santana, que lhe abriu as portas do conhecimento.
Filha de Claudino Ferreira Pinto e Lúcia Maria Cardoso Pinto de Madureira, Otaciana seguiu seus estudos com afinco, concluindo o curso ginasial e, aos 18 anos, atendendo ao desejo paterno, partiu para Salvador. Lá, na Escola Normal da Bahia, formou-se professora, iniciando uma jornada educacional que a levaria a lecionar em Valença, Gamboa, Xique Xique, Tucano, Prado, Porto Seguro e, finalmente, em Itabuna, onde aportou em 1924.
Além da docência, abraçou o curso de parteira, expandindo sua missão de cuidado. Com o apoio da irmã Saphira Pinto Madureira e da sobrinha Maria Conceição, realizou 10.990 partos, um feito que reflete sua dedicação incansável. Para famílias que podiam pagar, aceitava qualquer contribuição — uma galinha, ovos, o que fosse oferecido —, mas para os pobres, nada cobrava, ainda levando enxoval e alimentos para mães e filhos. Sua fé profunda e espírito religioso guiavam cada gesto, tornando-a uma figura reverenciada.
Acompanhada da irmã Brasília América Ferreira Pinto e da sobrinha Maria Conceição Pinto Madureira, fixou-se na residência de Pedro Augusto Monstans e Júlia Cordier Monstans, marcando seu início na nova terra.
Em Itabuna, D. Otaciana ergueu-se como um farol de sabedoria e serviço, lecionando na rua Floriano Peixoto, outrora chamada rua do Zinco, à frente da escola Água Branca, onde moldou a mente de cerca de 70 alunos, meninos e meninas. Sua influência transcendeu as salas de aula, pois foi uma das fundadoras da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, da Associação das Senhoras de Caridade, do Colégio Divina Providência, da Associação das Filhas de Maria e da Assistência Social, deixando um legado de fé e solidariedade.
Residiu por longos anos na rua da Laranjeira, hoje Paulino Vieira, mudando-se depois para a rua Lafayette de Borborema, até que o prefeito Miguel Moreira lhe ofereceu duas casas na travessa Rufo Galvão, números 40 e 44, onde viveu seus últimos dias.
Em 1960, a Câmara Municipal e a Associação Comercial de Itabuna a homenagearam com o título de cidadã itabunense, reconhecimento justo a uma vida de serviço.
Sua vida foi interrompida tragicamente em 4 de novembro de 1979, aos 96 anos, vítima de uma queda que lhe causou graves lesões nas costas e na cabeça. Contudo, seu impacto perdurou além da morte: vereadora por três legislaturas nas gestões de Armando Freire, Ubaldino Brandão e Miguel Moreira, D. Otaciana conquistou o coração de Itabuna. Seu enterro, às 16h, reuniu mais de seis mil pessoas — elites e humildes, religiosos e leigos —, num cortejo que celebrou sua memória. Sobrinha do Brigadeiro Antônio de Sena Madureira, Ministro da Guerra no governo de Marechal Deodoro da Fonseca, ela carregava em si um legado de honra, que ampliou com sua generosidade.
Ao partir, D. Otaciana deixou as casas da travessa Rufo Galvão para os sobrinhos-netos Oraciana e Jesuino, perpetuando seu legado familiar. Sua existência foi um hino à dedicação, entrelaçando educação, saúde e fé em prol da comunidade. Os registros de seus partos, os alunos formados e as instituições fundadas são testemunhos vivos de uma mulher que, com humildade e grandeza, escreveu seu nome na história de Itabuna.
A memória de D. Otaciana Pinto permanece como um eco suave nas ruas de Itabuna, onde cada passo seu ressoa nas fundações que ajudou a erguer. Sua vida, tecida com fios de altruísmo e coragem, inspira gerações, lembrando-nos que o verdadeiro legado está no amor ao próximo. Mais que uma cidadã, ela foi uma matriarca espiritual, cuja luz ainda guia os que buscam seguir seu exemplo de bondade e serviço.