sábado, 29 de março de 2025

D. Otaciana Pinto


Otaciana Pinto veio à luz em 14 de julho de 1883, no humilde arraial do Galeão de Cairu, próximo a Valença, na Bahia. Desde os cinco anos, suas primeiras letras foram traçadas sob o olhar atento da tia, a dedicada professora Ana Ferreira de Santana, que lhe abriu as portas do conhecimento. 

Filha de Claudino Ferreira Pinto e Lúcia Maria Cardoso Pinto de Madureira, Otaciana seguiu seus estudos com afinco, concluindo o curso ginasial e, aos 18 anos, atendendo ao desejo paterno, partiu para Salvador. Lá, na Escola Normal da Bahia, formou-se professora, iniciando uma jornada educacional que a levaria a lecionar em Valença, Gamboa, Xique Xique, Tucano, Prado, Porto Seguro e, finalmente, em Itabuna, onde aportou em 1924. 

Além da docência, abraçou o curso de parteira, expandindo sua missão de cuidado. Com o apoio da irmã Saphira Pinto Madureira e da sobrinha Maria Conceição, realizou 10.990 partos, um feito que reflete sua dedicação incansável. Para famílias que podiam pagar, aceitava qualquer contribuição — uma galinha, ovos, o que fosse oferecido —, mas para os pobres, nada cobrava, ainda levando enxoval e alimentos para mães e filhos. Sua fé profunda e espírito religioso guiavam cada gesto, tornando-a uma figura reverenciada.

Acompanhada da irmã Brasília América Ferreira Pinto e da sobrinha Maria Conceição Pinto Madureira, fixou-se na residência de Pedro Augusto Monstans e Júlia Cordier Monstans, marcando seu início na nova terra.

Em Itabuna, D. Otaciana ergueu-se como um farol de sabedoria e serviço, lecionando na rua Floriano Peixoto, outrora chamada rua do Zinco, à frente da escola Água Branca, onde moldou a mente de cerca de 70 alunos, meninos e meninas. Sua influência transcendeu as salas de aula, pois foi uma das fundadoras da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, da Associação das Senhoras de Caridade, do Colégio Divina Providência, da Associação das Filhas de Maria e da Assistência Social, deixando um legado de fé e solidariedade. 

Residiu por longos anos na rua da Laranjeira, hoje Paulino Vieira, mudando-se depois para a rua Lafayette de Borborema, até que o prefeito Miguel Moreira lhe ofereceu duas casas na travessa Rufo Galvão, números 40 e 44, onde viveu seus últimos dias.

Em 1960, a Câmara Municipal e a Associação Comercial de Itabuna a homenagearam com o título de cidadã itabunense, reconhecimento justo a uma vida de serviço.

Sua vida foi interrompida tragicamente em 4 de novembro de 1979, aos 96 anos, vítima de uma queda que lhe causou graves lesões nas costas e na cabeça. Contudo, seu impacto perdurou além da morte: vereadora por três legislaturas nas gestões de Armando Freire, Ubaldino Brandão e Miguel Moreira, D. Otaciana conquistou o coração de Itabuna. Seu enterro, às 16h, reuniu mais de seis mil pessoas — elites e humildes, religiosos e leigos —, num cortejo que celebrou sua memória. Sobrinha do Brigadeiro Antônio de Sena Madureira, Ministro da Guerra no governo de Marechal Deodoro da Fonseca, ela carregava em si um legado de honra, que ampliou com sua generosidade.

Ao partir, D. Otaciana deixou as casas da travessa Rufo Galvão para os sobrinhos-netos Oraciana e Jesuino, perpetuando seu legado familiar. Sua existência foi um hino à dedicação, entrelaçando educação, saúde e fé em prol da comunidade. Os registros de seus partos, os alunos formados e as instituições fundadas são testemunhos vivos de uma mulher que, com humildade e grandeza, escreveu seu nome na história de Itabuna.

A memória de D. Otaciana Pinto permanece como um eco suave nas ruas de Itabuna, onde cada passo seu ressoa nas fundações que ajudou a erguer. Sua vida, tecida com fios de altruísmo e coragem, inspira gerações, lembrando-nos que o verdadeiro legado está no amor ao próximo. Mais que uma cidadã, ela foi uma matriarca espiritual, cuja luz ainda guia os que buscam seguir seu exemplo de bondade e serviço.


sexta-feira, 21 de março de 2025

D. Catarina Alves de Oliveira

D. Catarina Alves de Oliveira veio ao mundo em 1840, em meio às paisagens rústicas da Chapada dos Índios, hoje rebatizada como Cristinápolis, no coração de Sergipe. Filha de José Alves e Maria do Carmo Severina de Oliveira Alves, cresceu enraizada em uma família de tradições sólidas, sendo irmã de Félix Severino do Amor Divino. Seu caminho se entrelaçou ao de Maximiliano José de Oliveira Campos em um matrimônio que a levaria a novas fronteiras. Acompanhada do irmão Firmino Alves e das irmãs Antônia, Alexandrina e Eugênia, além da lembrança melancólica do irmão Vespasiano, perdido aos 19 anos, ela aportou em Itabuna, onde avós e tios já haviam estabelecido laços no bairro Bananeira, tornando-se uma pioneira em terras ainda por desbravar.

Em Itabuna, D. Catarina ascendeu como a primeira dama da sociedade local, uma presença marcante que moldou o destino da região. Com fervor e determinação, envolveu-se na luta pela emancipação do município, deixando um legado indelével. Sua visão altruísta a guiou na fundação de pilares comunitários como a capela de Santo Antônio, a igreja matriz de São José, a Santa Casa de Misericórdia e a Associação das Damas de Caridade, sendo também uma pioneira na Assistência Social. Cada iniciativa refletia sua alma generosa, tecendo uma rede de apoio que sustentaria gerações futuras.

Seu adeus chegou em 1920, quando D. Catarina partiu, deixando um legado vivo em seus muitos filhos e descendentes, cujas trajetórias iluminaram a comunidade. Entre eles, destacam-se Cherubim José de Oliveira e Cícero Alves de Oliveira, figuras que perpetuaram os ideais de serviço e dedicação herdados dela. Sua história, gravada nas fundações que ajudou a erguer e nas memórias de um povo, permanece como um testemunho de uma vida dedicada ao progresso e à fraternidade.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Mário Padre


Nascido em 14 de julho de 1912, Mário Padre trilhou um caminho de múltiplas faces: foi professor primário, bancário e empresário, deixando marcas indeléveis em cada ofício. Sua paixão por Itabuna o transformou em um defensor incansável da cidade, onde liderou campanhas fervorosas em prol de seu desenvolvimento. Pioneiro na industrialização do leite, ele enxergava além do seu tempo, unindo visão empreendedora a um amor profundo pela terra que o acolhia, sempre buscando elevar o progresso local com determinação e ousadia.

Em Vitória da Conquista, sua energia criativa floresceu ainda mais. Sua dedicação à educação se manifestou na criação de um colégio interno, um espaço que formou mentes e corações. Já em Itabuna, como gerente do Banco Econômico, trouxe estabilidade e confiança à comunidade, mas foi além: foi um dos fundadores do bairro Góes Calmon e idealizou o Centro Comercial, moldando o crescimento urbano com mãos visionárias. Na década de 50, ao se eleger deputado estadual, voltou sua força contra os males sociais da época, combatendo com firmeza o jogo do bicho e a prostituição, em uma cruzada por valores que acreditava serem essenciais.

A política o chamou novamente quando se candidatou a prefeito de Itabuna, movido pelo desejo de servir. Em 1979, revelou outro lado de sua alma inquieta ao publicar "Através do Brasil", um diário de viagem que narrava uma jornada épica de 30 mil quilômetros, percorridos em dois meses a bordo de um Fusca, ao lado da esposa e do filho. Por dezenas de cidades, ele mergulhou no pulsar do país, capturando sua essência com sensibilidade e curiosidade. Nos anos finais, dedicou-se à luta pela emancipação de Ferradas, um último ato de amor por sua região.

A vida desse homem de feitos grandiosos foi interrompida em 20 de outubro de 1993, em Salvador, por um trágico acidente automobilístico. Seu legado, porém, permanece vivo nas ruas que ajudou a construir, nas ideias que semeou e na memória de uma existência dedicada a transformar o mundo à sua volta, com coragem e coração.

sábado, 1 de março de 2025

Paulino Vieira


Paulino Vieira do Nascimento, figura de traços firmes e olhar visionário, inscreveu seu nome na galeria dos desbravadores de Itabuna, uma terra que pulsava com o vigor das mudanças no sul da Bahia. Nascido em tempos de incertezas, ele se ergueu como comerciante e fazendeiro na Vila de Tabocas, um núcleo ainda tímido que sonhava com horizontes maiores. Suas terras, vastas e generosas, estendiam-se ao oeste daquele povoado, abraçando o futuro com a mesma determinação que marcava suas ações. Hoje, onde outrora ecoavam os passos de seus cavalos, ergue-se a Rua Paulino Vieira, um tributo perene ao homem que ajudou a moldar a cidade.

Antes de receber seu nome, aquela rua testemunhou a dança das nomenclaturas: foi Rua das Laranjeiras, Rua dos Sertanejos e Rua 12 de Outubro. Mas foi Paulino quem, com sua presença indelével, acabou por batizá-la. Em 1898, fundou a Filarmônica 15 de Março, a primeira de Itabuna, enchendo o ar com notas que falavam de esperança e identidade.

A política também foi palco de suas investidas. Junto ao coronel Firmino Alves, liderou o partido “Pessoísta” em Itabuna, uma força que reverberava os ideais de Antônio Pessoa, ecoando até esferas mais altas como as de J.J. Seabra e o marechal Hermes da Fonseca. Com os coronéis José Firmino Alves e Basílio de Oliveira, visitou o intendente de Ilhéus, Domingos Adami, para comunicar a decisão do povo: Tabocas queria ser livre, e Paulino estava na vanguarda dessa luta.

Não satisfeito em apenas falar, Paulino sabia que as ideias precisavam de um eco mais amplo. Em setembro de 1905, fundou o jornal “O Labor”, uma tribuna impressa que defendia os interesses do grupo Pessoísta e agitava as mentes da vila com debates políticos e sociais. Três anos depois, em 1908, deu vida a “O Democrata”, outro veículo que se tornaria farol para os ideais que ele acalentava. 

A partir de 1912, Paulino consolidou ainda mais sua influência ao liderar o grupo político que ficou conhecido como “Paulinista”. Vinculado a figuras poderosas como Hermes da Fonseca no âmbito federal e J.J. Seabra no estadual, ele se tornou uma ponte entre os anseios locais e as grandes decisões que moldavam o destino do Brasil. 

No campo da administração pública, Paulino também deixou sua marca. Exerceu o cargo de conselheiro municipal – o equivalente ao vereador de hoje – com a mesma dedicação que aplicava em seus outros empreendimentos. 

Sua jornada, no entanto, encontrou um ponto final em 1º de outubro de 1921, quando a morte o levou, deixando um vazio que Itabuna sentiu profundamente. Paulino partiu no auge de sua influência, mas suas sementes já haviam germinado. Ele foi mais que um comerciante ou fazendeiro; foi um arquiteto do futuro.

Assim, Paulino Vieira do Nascimento se eternizou como um dos pilares de Itabuna, um desbravador que, com mãos calejadas e espírito inquieto, abriu caminhos onde antes havia apenas trilhas. Sua vida é um testemunho do poder da ação e da visão, um lembrete de que o progresso de uma cidade não se faz apenas com tijolos, mas com o coração de homens que ousam sonhar. E enquanto a Rua Paulino Vieira cortar o coração de Itabuna, seu nome continuará a sussurrar nas esquinas: aqui viveu um homem que fez história.