sexta-feira, 24 de abril de 2020

Telmo Padilha, de Itabuna para o mundo


Telmo Padilha nasceu em Itabuna, a 5 de maio de 1930. Foi jornalista e Membro da Academia de Letras de Ilhéus, por indicação de Adonias Filho. Publicou os seguintes livros: "Girassol do Espanto"(1956); "Ementário"(1974); "Onde tombam os pássaros"(1974); "Pássaro da Noite" (1977); "Canto Rouco"(1977); "O Rio"(1977); "Vôo Absoluto" (1977); "Poesia Encontrada"(1978); "Travessia"(1979); "Punhal no Escuro"(1980) e "Noite contra Noite" (1980), todos no melhor gênero da poesia. Muitas obras de sua autoria foram traduzidas para o italiano, o espanhol, o inglês, o francês, o alemão e o japonês.

Destacou-se como poeta no cenário nacional e foi agraciado com muitos prêmios como "Melhores Livros", da Câmara municipal de Itabuna (1956); "1º Concurso de Poesia - A Tarde"; "Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do Livro" (1975); Prêmio do Concurso Internacional de Poesia San Rocco, Itália (1976); 1º Prêmio do Concurso de Poesia Firmino Rocha, da Prefeitura Municipal de Itabuna (1981); e Prêmio Sosígenes Costa da Prefeitura Municipal de Ilhéus (1981).

Poeta de reflexões existenciais, que constantemente indaga-se, questiona-se, numa linguagem repleta de sutilezas líricas. Inquieto, reafirma uma poética cuja temática indaga de forma intimista o viver, o morrer, a infância, a solidão e, ainda, sua relação com a realidade da sua terra, da cultura do cacau e do tempo que estabelece esta história que se escoa pelas frestas cotidianas. Sua poesia reside numa lírica lucidez, num abismo interior, entre a febre e insônia, expressa num processo criativo maduro e num estilo impecável.

Telmo Padilha faleceu no dia 16 de julho de 1997, quando sofreu um acidente de automóvel.

ITABUNA
Se não há montanhas,
como escalá-las?
Se não há florestas,
Com embrenhar-me
em sombras
que não estas?
Se não há o mar,
como falar de águas
e horizontes?

Sou o cantor
desta planície
e me abismo
em mim,
e desço aos outros
de mim,
e sofro os outros
de mim.

INFÂNCIA
Fartura, nem tanto
mais que uma fazenda
com seus pastos, seus animais,
o engenho antigo, o rio
correndo entre pedras,
tímido sob as grandes
árvores,
água.
A noite desenhava
úmidas assombrações.
O vento no rosto
do menino cavalgava
mais que seu cavalo.
A vida tinha seu cheiro
de eternidade, exato
e puro.
A morte era um fato
natural, quase geométrico
na ignorância da tarde.

RIMA
A palavra amor
já não rima com flor:
outra é sua correspondente
na escala do som,
na escala do ritmo.
Pode-se combiná-la
com calor, noutro plano;
ou com identidade,
aquela que mente
à outra verdade.
Com cal e giz
a escrevemos
no poema
antes que apague.

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